Título: PSDB, DEM e PSD têm telhado de vidro em loteamento
Autor: Roxo, Sérgio
Fonte: O Globo, 13/05/2011, O País, p. 11

SÃO PAULO. Para acomodar aliados e inflar o seu novo PSD, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, tem ampliado de forma contínua o número de secretarias da prefeitura. Só no último mês foram criadas mais duas, e o total de pastas atingiu o recorde de 29. Quando José Serra (PSDB) deixou a prefeitura em 2006, eram 21 secretarias. Kassab também está loteando a gestão entre aliados, como faz o tucano Geraldo Alckmin no estado, apesar de PSDB, DEM e o novo PSD atacarem o loteamento feito pelo PT no governo federal.

Cientistas políticos avaliam que o inchaço da máquina nos últimos meses tem o objetivo de atrair integrantes para o PSD que Kassab está criando e aproximar legendas que possam se aliar ao prefeito no futuro.

- Distribuir cargos entre os partidos da base faz parte do jogo. Todos os governos fazem. Mas o Kassab extrapolou tudo. Ele está construindo um partido nacional com recursos da prefeitura de São Paulo. É escandaloso. Deixou de administrar a cidade para cuidar do partido - avalia Fernando Abrucio, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Depois de anunciar a saída do DEM, Kassab pôde buscar aliados entre os partidos da base de apoio ao governo Dilma Rousseff. O PCdoB, que era oposição ao seu governo, mudou de lado e ganhou uma secretaria. O comunista Gilmar Tadeu Ribeiro Alves foi nomeado, no mês passado, para a pasta Especial de Articulação da Copa do Mundo.

No malabarismo político, o prefeito paulistano chegou até a nomear um secretário para despachar de Londres. Walter Feldman, que ocupava a pasta de Esportes, assumiu este mês a Secretaria Especial de Articulação de Grandes Eventos e terá a missão de acompanhar os preparativos para os Jogos Olímpicos de 2012. Fundador do PSDB, Feldman deixou o partido no mês passado e pode ingressar no PSD.

Com a transferência do ex-tucano, Kassab contemplou o PMDB com a Secretaria de Esportes. O presidente municipal do partido, Bebeto Haddad, foi o escolhido. Na mesma leva, o ex-prefeito Uebe Rezeck, de Barretos e também do PMDB, ficou com a Secretaria de Participação e Parceria.

- O Kassab fez um rearranjo nos cargos na prefeitura que serviu como moeda de troca para atrair políticos para o PSD - analisa o cientista político Rubens Figueiredo, do Centro de Pesquisa e Análises de Comunicação (Cepac)

Busca de aliados até em outros estados

O prefeito paulistano também tem escolhido aliados, inclusive de outros estados, para serem conselheiros empresas estatais municipais. Os ocupantes desses postos ganham salário de R$6 mil para participarem de um reunião por mês. O ex-vice-presidente e ex-senador Marco Maciel (DEM), que mora em Recife, por exemplo, foi nomeado para os conselhos da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) e São Paulo Turismo (SPTuris) da cidade. Ontem, ele desistiu dos cargos.

O ex-deputado federal Raul Jungmann (PPS), também de Pernambuco, está no conselho da Empresa de Processamento de dados (Prodan). O ex-deputado federal Gilberto Nascimento (PSC) ocupa cargos em três conselhos: CET, Companhia de Habitação (Cohab) e São Paulo Transportes (SPTrans).

- É claro que a nomeação do Marco Maciel e do Jungmann é uma tentativa de atrair políticos pernambucanos para o PSD - afirma Abrucio.

A prefeitura foi questionada sobre as nomeações de secretários, mas informou que não existe loteamento para cargos na administração municipal e que os critérios de escolha são técnicos. Também afirmou que a pasta de Articulação para a Copa 2014 exerce importante função, mas não implicou em criação de estrutura administrativa porque não há servidores subordinados ao secretário.

PSD altera composição do governo do estado

A criação do PSD também mexeu com a composição do governo estadual paulista, do tucano Geraldo Alckmin. Depois que o vice-governador Guilherme Afif Domingos, que acumulava a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, anunciou que ingressaria no novo partido, o DEM passou a reivindicar uma secretaria no governo tucano. Para a legenda voltar a ter representação no primeiro escalão, Alckmin exonerou Afif e transferiu o tucano Paulo Alexandre Barbosa da pasta de Desenvolvimento Social para a de Desenvolvimento Econômico. Rodrigo Garcia (DEM) foi nomeado para a vaga aberta com a mudança.

Na gestão Alckmin, cinco (incluindo a pasta do DEM) das 26 secretarias são ocupadas por políticos de partidos que apoiam a gestão tucana. Há caso em que o domínio da pasta por uma sigla atravessa gestões. O PTB já ocupava a Secretaria de Esportes, Lazer e Turismo, com Claury Alves da Silva. Ele ficou no cargo até março do ano passado, quando pediu demissão para disputar a eleição para deputado federal. Ao tomar posse, em janeiro deste ano, Alckmin nomeou para a pasta o médico Jorge Pagura, também do PTB.

A área de Turismo foi desmembrada e ganhou uma secretaria própria, comandada pelo deputado federal Márcio França, do PSB. França disse que quando o PSB foi convidado para integrar o governo estadual, colocou como condição ter uma secretaria para poder participar das decisões políticas da gestão. Mas o secretário nega tenha ocorrido um loteamento da administração.

- O que as pessoas chamam de lotear, na verdade, é governar com outros partidos. Não existe nenhum lugar no mundo, a não ser nas ditaduras, onde se governa com um único partido - disse França.

Outra pasta que passou a existir com Alckmin, a de Saneamento e Recursos Hídricos, desmembrada da de Energia, foi assumida pelo deputado estadual Eduardo Giriboni, do PV.

O quinto partido a ter um representante no primeiro escalão do governo é o PPS. O presidente estadual da legenda, David Zaia, ocupa a Secretaria de Emprego. DEM e PPS fizeram parte da aliança que elegeu Alckmin no ano passado no primeiro turno. Mas PV e PSB tiveram candidatos próprios na disputa contra o atual governador. Os dois partidos só se aproximaram do governo tucano depois da eleição. O PTB não lançou candidato.

Procurada, a Secretaria da Casa Civil do governo paulista informou, por meio da assessoria de imprensa, que "o secretariado paulista é escolhido pelo governador Alckmin, observando critérios técnicos, de competência e éticos para trabalhar em benefício do estado e de sua população". A pasta acrescentou ainda que os integrantes do governo "estão comprometidos em cumprir o plano de governo assumido durante a campanha eleitoral e atuam sob as diretrizes traçadas única e exclusivamente pelo governador de São Paulo".