Título: Mais de 20 anos sem essa medida
Autor: Oliveira, Eliane ; Figueiredo, Janaína
Fonte: O Globo, 13/05/2011, Economia, p. 21

BRASÍLIA. Para o economista Renato Baumann, ex-representante da Cepal no Brasil, as ações para dificultar a importação de carros são "medidas de gaveta". Hoje no Ipea e na UnB, ele alertou para o risco de problemas com outros países, a não ser que a lentidão no desembaraço se aplique, informalmente, só a carros argentinos.

Não é um passo muito grande frear importações do mundo todo apenas para atingir a Argentina?

RENATO BAUMANN: Aparentemente, a medida é para atingir a Argentina, e o governo brasileiro não poderia agir de forma mais direta, para não ferir as normas internacionais de comércio. Há mais de 20 anos não se toma esse tipo de medida de gaveta, em que se misturam decisões administrativas e demora na liberação de mercadorias para limitar importações. Mas acredito que haja algo mais, pois as importações de automóveis, de forma geral, têm crescido bastante nos últimos anos. Seria também uma forma de tampar o ralo na balança comercial.

O governo brasileiro agiu certo em relação aos argentinos?

BAUMANN: O governo argentino não cumpriu o prometido de normalizar o desembaraço das mercadorias brasileiras. Não dá para dizer o que isso pode significar a médio prazo, pois há um componente político novo. É possível até que a medida seja revogada nas próximas horas, pois quanto mais tempo vigorar, maior o impacto.

Como fazer para evitar a ira dos outros países?

BAUMANN: Como é uma medida administrativa, pode significar que o fiscal, lá na ponta, seja orientado a agilizar o desembaraço para veículos de outras nacionalidades, demorando mais com os argentinos. Espero que haja um entendimento, pois se a Argentina decidir retaliar, será o pior que poderá acontecer. (Eliane Oliveira)