Título: Werlang: BC está mais lento do que na Era Lula. Tombini aposta na meta
Autor: Almeida, Cássia ; Bôas, Bruno Villas
Fonte: O Globo, 13/05/2011, Economia, p. 22

O vice-presidente do Itaú Unibanco Sérgio Werlang, um dos criadores do sistema de metas de inflação, disse ontem que o Banco Central vem agindo para combater a inflação, mas num ritmo mais lento que no governo anterior, do presidente Lula.

- Há duas maneiras de fazer a inflação convergir para meta. Uma ação rápida e mais custosa para o PIB (Produto Interno Bruto) e uma ação mais lenta, que permita que os choques de oferta sejam parcialmente incorporados. O BC está agindo mais lentamente que nos oito anos anteriores - afirmou, após participar do XIII Seminário Anual de Metas, na sede do Banco Central, no Rio.

Tombini: medidas começaram a dar resultado

Werlang acredita que a inflação deve convergir para o teto da meta no fim deste ano, ficando entre 6,3% e 6,5%. Em 2012, o economista acredita que há "uma chance forte" de que os indicadores caminhem para o centro da meta.

Segundo ele, o Brasil ainda é muito sujeito a choques externos e, enquanto a situação persistir, a meta deve permanecer nesse patamar "por muito tempo".

O presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, afirmou ontem que as medidas macroprudenciais adotadas pelo governo no fim do ano passado "começam a mostrar resultados" e que a inflação "certamente" chegará ao fim deste ano abaixo do teto da meta estabelecida pelo governo, de 6,5% em 2011. Segundo ele, a inflação deve desacelerar nos próximos meses - para um taxa que, anualizada, ficará mais próxima do centro da meta de 4,5% - ainda que a no número acumulado dos 12 meses continue elevada devido a "efeitos estatísticos".

Em discurso de abertura do seminário, Tombini disse que a autoridade monetária quer encerrar este ano com a inflação o mais próximo possível do centro da meta e convergir a inflação para o centro da meta no próximo ano.

- Isso naturalmente demanda ajustes das condições monetárias, como foi comunicado, por um período suficientemente prolongado - reforçou Tombini, lembrando que a autoridade monetária elevou em 1,25 ponto a taxa básica de juros em 2011, para 12% ao ano.

Tombini comentou ainda com jornalistas que a redução dos preços dos combustíveis "certamente vai repercutir sobre na inflação ao consumidor".

Apesar de o presidente do BC dizer que as medidas para conter a expansão do crédito estão dando resultado, o IBGE divulgou ontem que as vendas no varejo brasileiro cresceram em março e os dados dos dois meses anteriores foram revisados para cima. Em março, a alta foi 1,2% sobre fevereiro e de 4,1% em relação a igual mês do ano anterior. O IBGE revisou para cima o dado de fevereiro, de queda preliminar de 0,4% para alta de 0,3% sobre janeiro.

Em entrevista à agência Reuters, o diretor do Fundo Monetário Internacional para o Hemisfério Ocidental, Nicolas Eyzaguirre, que também participou do seminário, alertou que o boom econômico da América Latina pode acabar em uma ampla crise, a não ser que os governos da região administrem a situação de forma apropriada.

Risco global de queda no preço das commodities

Caso isso não aconteça, disse, a região poderá ver suas moedas se enfraquecerem dramaticamente como resultado de um choque externo repentino, tais como queda nos preços globais de commodities ou um aumento rápido e inesperado nos juros nos Estados Unidos.

Eyzaguirre mencionou especificamente o Brasil, dizendo que o governo Dilma deve continuar "controlando a economia por meio de uma gama de medidas para evitar exuberância, ou pode acabar em lágrimas".

"Se uma grande correção ocorrer... o capital pode parar de vir para o país repentinamente e você pode ter uma grande crise financeira", acrescentou.

Com agências internacionais