Título: O propósito do dossiê era justificar a guerra
Autor: Eichenberg, Fernando
Fonte: O Globo, 13/05/2011, O Mundo, p. 28

LONDRES. Um ex-oficial da inteligência britânica revelou ter sido pressionado a encontrar provas para justificar o apoio do governo à guerra contra o Iraque. As novas informações foram divulgadas por meio de uma carta enviada pelo general Michael Laurie ao ¿Inquérito Iraque¿, uma investigação ordenada pelo então primeiro-ministro Gordon Brown para apurar as razões que levaram o governo a entrar no conflito. Laurie relata que o dossiê sobre o desenvolvimento de armas de destruição em massa no Iraque foi elaborado para provar a necessidade da guerra.

As declarações do general, que ocupou o cargo de diretor-geral de Coleta de Informações do Ministério da Defesa, contradizem o testemunho de Alistair Campbell, porta-voz do então premier Tony Blair no período que antecedeu o conflito. Campbell havia afirmado que o dossiê apenas refletia as preocupações do governo e que o documento ¿não deturpava de forma alguma¿ a situação no Iraque. A hipótese de o dossiê, apresentado ao Parlamento em 2002, ter ido além dos fatos tem sido amplamente discutida após o fracasso em encontrar provas de que Saddam Hussein dispunha de armas de destruição em massa. Segundo Laurie, um primeiro esboço do documento ¿foi recusado porque não era forte o suficiente¿ para justificar a invasão.

¿Nós sabíamos naquela época que o propósito do dossiê era precisamente justificar a guerra¿, afirma o general.

Laurie afirma que Joe French, chefe de Defesa de Inteligência, estava ¿sob pressão¿ e ¿frequentemente perguntava se eles estavam deixando passar alguma coisa¿. Segundo o militar, não foram encontradas provas de aviões, mísseis ou de qualquer equipamento relacionado a armas de destruição em massa, mas, ainda assim, cada fato foi tratado no dossiê do modo mais contundente possível e as declarações finais iam além do que se podia aferir a partir dos dados de inteligência.

O relatório final do ¿Inquérito Iraque¿ deve ser apresentado ainda este ano. O painel de investigação está avaliando todo o material recebido em mais de 100 audiências públicas ao longo dos últimos 18 meses, além de documentos classificados como confidenciais. Em uma mensagem no Twitter, Campbell disse que não tinha nada a acrescentar às provas já entregues e insistiu que o dossiê não foi planejado para justificar a guerra.