Título: Lucro da Petrobras sobe 42%
Autor: Ordoñez, Ramona; Rosa, Bruno
Fonte: O Globo, 14/05/2011, Economia, p. 29

Estatal teve ganho de R$ 10,9 bi no 1o- trimestre, acima do esperado, mesmo sem repassar alta do petróleo

A Petrobras teve lucro líquido de R$ 10,9 bilhões no primeiro trimestre do ano, representando um crescimento de 4% em relação aos R$ 10,6 bilhões obtidos no quarto trimestre de 2010. Em relação aos R$ 7,7 bilhões de lucro no primeiro trimestre do ano passado, o resultado deste ano foi 42% superior. Com esse resultado, a Vale superou a Petrobras, já que a mineradora obteve lucro líquido de R$ 11,2 bilhões de janeiro a março deste ano.

O resultado da Petrobras, segundo analistas de mercado, foi influenciado pelo fato de a companhia não ter repassado, para os preços da gasolina e do óleo diesel, os aumentos das cotações do barril do petróleo no mercado internacional, que vêm ocorrendo desde o início do ano.

Segundo o especialista Adriano Pires Rodrigues, ao segurar os reajustes, a Petrobras deixou de arrecadar cerca de R$ 900 milhões nos três primeiros meses do ano. Apesar disso, o ganho veio acima do esperado pelo mercado. Em média, os analistas esperavam ganho de R$ 9,7 bilhões.

O Conselho de Administração da Petrobras acabou não aprovando ontem, como pretendia, o novo Plano de Negócios para o período entre 2011 e 2015. Em nota, no início da noite de ontem, a Petrobras informou que o programa foi apresentado ao seu conselho, que solicitou estudos e análises adicionais. No plano, revisto anualmente, a estatal define seu programa de investimentos para os cinco anos seguintes.

No período, receita registrou alta de 9%

● No período de janeiro a março deste ano, a receita líquida da companhia foi de R$ 54,8 bilhões, 9% maior em comparação aos R$ 50,4 bilhões em igual período do ano passado. Já em relação aos R$ 54,4 bilhões de receita no quarto trimestre de 2010, o resultado foi apenas 1% maior. Os investimentos realizados pela Petrobras no primeiro trimestre do ano atingiram R$ 15,8 bilhões, representando uma redução de 11% em comparação aos R$ 17,7 bilhões em igual período do ano anterior.

A produção nacional de petróleo e gás atingiu 2,3 milhões de barris diários, o mesmo volume obtido no quarto trimestre do ano passado. E o consumo de combustíveis cresceu 7%, passando de 2,18 milhões de barris por dia, no início de 2010, para 2,34 milhões de barris, entre janeiro e março deste ano.

Para analistas, a alta de 7% nas vendas de derivados e gás natural no mercado interno neste início de ano veio acima do esperado. Isso, acreditam, neutralizou parte das perdas pelo não repasse do avanço na cotação do petróleo no mercado internacional ao preço final da gasolina e do diesel. Porém, há outros fatores. Nelson Rodrigues de Matos, analista da BB Investimentos, destacou que parte das exportações no fim do ano passado foi considerada como receita neste início de ano, já que estavam em andamento no fim de 2010.

¿ O avanço das vendas refletiu o crescimento econômico do país, com destaque para o aumento de 13% nas vendas de gás natural neste início de ano, em função do crescimento industrial e da maior demanda por geração de energia ¿ disse um analista que não quis se identificar.

Segundo a estatal, as vendas de querosene para aviação (QAV) aumentaram 18%, reflexo da maior oferta de vôos nacionais e internacionais. Diesel e gasolina registram alta de 9% e 7%, respectivamente, neste início de ano em relação ao mesmo período do ano passado.

Os especialistas destacaram ainda que o resultado poderia ter sido maior não fosse o aumento de 17% no volume de importação de petróleo feito pela estatal. Lucas Brendler, analista da corretora Geração Futuro, destaca que os preços no exterior são maiores que os cobrados no Brasil. Com isso, o resultado da estatal acaba sendo afetado, já que há um aumento nos custos. A diferença entre o preço do petróleo nacional e o do tipo Brent aumentou 230%, de US$ 3,32 para US$ 10,93 o barril.

¿ Foi um trimestre com o preço do petróleo em elevação. Com a demanda em alta no Brasil, já que o preço do álcool subiu muito, devido ao período de entressafra, a demanda por gasolina aumentou, e a Petrobras teve de importar mais, mesmo que a preços maiores ¿ diz Brendler, que projetava um lucro em torno de R$ 10 bilhões.

Endividamento sobe 9%, para R$ 128 bi

● Assim, as importações de petróleo e derivados no primeiro trimestre aumentaram 10%, passando de 621 mil barris por dia para 684 mil barris diários. As importações extras de 2,5 milhões de barris de gasolina, feitas para atender ao aumento do consumo interno, não se refletiram no resultado do primeiro trimestre, uma vez que as compras foram fechadas em abril e maio. Com isso, o resultado no próximo trimestre também será afetado.

Já as exportações de petróleo e derivados feitas pela Petrobras tiveram uma queda de 14%, passando de 747 mil barris por dia para 646 mil barris diários. Em volume, a balança comercial da Petrobras ficou negativa em 38 mil barris por dia.

Os custos da extração de petróleo também cresceram no primeiro trimestre, contribuindo para o resultado. No período, o custo de extração foi de R$ 19 por barril, 12% acima dos R$ 16,95 em igual período anterior. Considerando o valor pago em participação governamental (royalties e impostos), o custo de extração por barril foi de R$ 50,56, representando um aumento de 16%.

Osmar Camilo, da Corretora Socopa, afirma que o mercado está cada vez mais preocupado com a forte intervenção do governo federal na gestão da estatal. O setor não reagiu bem à decisão do governo de impedir a Petrobras de repassar para os preços internos da gasolina e do diesel as altas dos preços do petróleo no mercado externo. Os dois combustíveis representam cerca de 60% da receita total da estatal.

A companhia fechou o trimestre com um endividamento total de R$ 128,9 bilhões, representando um aumento de 9% em relação aos R$ 117,9 bilhões no fim de 2010. Ontem, as ações da Petrobras recuaram na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), acompanhando os temores em relação à economia mundial que contaminou o mercado internacional. As ações preferenciais da Petrobras (PN, sem direito a voto) caíram 0,68%, para R$ 23,52, enquanto as ordinárias (ON, com direito a voto) tiveram queda de 1,35%, para R$ 26,40. Apenas no mês de maio, as ações acumulam queda de 7,35% e 7,94%, respectivamente.