Título: Escritora da ABL também critica o teor da obra
Autor: Bruno, Cássio
Fonte: O Globo, 16/05/2011, O País, p. 5

`É aceitar que dois mais dois são cinco¿, diz Ana Maria Machado

A escritora Ana Maria Machado, imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL), foi outra a desaprovar o livro: ¿Custo a crer que seja exatamente isso que a notícia traz. Se for, é um absurdo total. Equivale a pretender aceitar que dois mais dois possam ser cinco, com a ¿boa intenção¿ de derrubar preconceitos aritméticos. Para evitar a noção de ¿errado¿, prefere-se, então, esse paternalismo condescendente de não corrigir.

Para ela, pode haver ¿malabarismos linguísticos¿, mas dentro de um contexto: ¿ Com isso, consolida-se outro conceito, ode ¿coitadinho¿, tão pernicioso etão prejudicial ao pleno desenvolvimento dos cidadãos. É claroque qualquer um pode cometer todos os barbarismos linguísticos que quiser , mas deve saber que eles só se sustentamdentro de um contexto (um autor que reproduza a fala popular , por exemplo) e têm um preço social. Ela ressalta, porém, que a escola deve ajudar o cidadão a ser poliglota da própria língua: ¿A escola deve ajudar o cidadão a se tornar um poliglota em sua própria língua, capacitando-o a utilizar registros diversos de linguagem em circunstâncias diferentes. O professor Sérgio Nogueira também não concorda com o tratamento adotado no livro distribuído pelo MEC: ¿É um absurdo. O ensino já está tão ruim. Trata-se de um incentivo ao desvio da norma. Acham que o aluno é incapaz de aprender concordância. Existem variantes na nossa língua. Só que todos terem de aceitar é uma outra história. Segundo o ministério, a escolha dos livros didáticos não passa pelo crivo dos gestores públicos. A indicação é feita por universidades apartir de ofertas das editoras em licitações públicas. As universidades fazem a seleção com base na análise de livros sem capa e sem identificação de origem. Com a indicação, os livros vão para o catálogo do ministério. Mas o livro só é comprado e distribuído se algum professor se interessar pelo texto e fizer o pedido ao Programa Nacional do Livro Didático. ■