Título: Chávez já não tem tanta audiência como antes
Autor: Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 11/05/2011, O Mundo, p. 28

JOSÉ CARRASQUERO

De tudo o que os emails de Raúl Reyes revelaram, o que mais surpreendeu os venezuelanos foram os supostos pedidos para a guerrilha assassinar figuras da oposição. Para o analista político venezuelano José Carrasquero, a repercussão deve ser maior fora do país, minando o projeto político de Hugo Chávez no exterior.

Cristina Azevedo

Como esse dossiê vai influenciar as relações entre Colômbia e Venezuela?

JOSÉ CARRASQUERO: Tenho a sensação de que não deve alterar as relações entre (Juan Manuel) Santos e Chávez, porque os documentos foram entregues ao instituto anos atrás. Não se pode atribuir isso ao atual governo colombiano. Por outro lado, uma reação negativa da Venezuela em relação à Colômbia seria como validar o que sempre negou: Caracas nunca reconheceu que a informação (dos computadores) fosse válida. É certo que pode haver um certo mal-estar. Mas não creio que vá provocar uma reação adversa.

Como isso se reflete dentro da Venezuela?

CARRASQUERO: Há uma forte presença de informações, sobretudo em jornais e na web. Mas não é a primeira vez que ouço falar disso. Há algumas coisas novas, como o pedido de funcionários venezuelanos (para as Farc) assassinarem duas pessoas. Se houve ou não a tentativa, não aparece. A ajuda com dinheiro e armas já aparecia na primeira vez em que se falou sobre a apreensão dos computadores. Certamente vai haver um questionamento ao governo. Mas ele vai se limitar a contestar a validade dos documentos, como já fez (no passado) através de campanhas de comunicação, perguntando como um computador poderia resistir a um bombardeio.

No caso de Rafael Correa, quais as consequências?

CARRASQUERO: Isso é novo para mim. E chega para Correa em má hora, num momento em que tenta aprovar um referendo para ter maior controle sobre os meios de comunicação. A pergunta que vai surgir é se, com uma imprensa controlada, esse tipo de assunto seria divulgado como está sendo. Creio que vai haver uma discussão importante sobre o papel dos meios de comunicação e as democracias.

Como os documentos vão influenciar a relação de Chávez com a América Latina?

CARRASQUERO: Já causaram impacto. Creio que Chávez já não tem tanta audiência como tinha antes. Basicamente porque depois do bombardeio da Colômbia (ao acampamento de Raúl Reyes), a reação de Chávez foi desproporcional, o que de alguma forma colocou em questão a neutralidade do presidente. Parecia a reação de uma pessoa afetada. Creio que a audiência do presidente frente a outros presidentes latino-americanos se deteriorou, reduziu-se mais a intercâmbio comercial do que político, que ele pretendia.