Título: Ana de Hollanda enfrenta saia-justa em SP
Autor: Roxo, Sérgio
Fonte: O Globo, 11/05/2011, O País, p. 11

Ministra diz que ataques às políticas de sua pasta são intrigas e evita responder a manifesto

SÃO PAULO. Alvo de intenso tiroteio há mais de dois meses, a ministra da Cultura, Ana de Hollanda, teve de ouvir uma série de críticas num encontro com artistas ontem, na Assembleia Legislativa de São Paulo. A presidente da Federação das Cooperativas de Música do Rio, Janine Durand, leu um manifesto para a presidente Dilma Rousseff afirmando que a ministra da Cultura atua em oposição ao trabalho feito pelo seu antecessor, Juca Ferreira, no governo Lula. Um dos mais contundentes nos ataques à gestão da ministra foi o diretor de teatro José Celso Martinez Corrêa.

Foram criticados o congelamento de verbas federais para a cultura, a gestão do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e a atuação do ministério com relação ao Ecad (órgão que arrecada e distribui direitos autorais).

"Essa gestão rapidamente se encarregou de desconstruir não só as conquistas da gestão anterior, mas principalmente o inédito, amplo e produtivo ambiente de debate que havia se estabelecido", diz o texto. A ministra se limitou a dizer que não responderia ao manifesto porque ele foi endereçado a Dilma Rousseff.

José Celso não gostou:

-- Nós queremos que Ana continue, mas, para você continuar, não pode ignorar essa carta que acabou de ser lida. Você não pode passar a bola para a presidente Dilma - afirmou o diretor, aplaudido pela plateia.

A ministra disse ser vítima de fofocas e boato. No fim, saiu sem dar entrevista, escoltada por policiais militares.

- O ministério trabalha de forma muita intensa. Nas notícias que estão sendo veiculadas pela imprensa, têm muito boato, muita fofoca, muita informação completamente equivocada, sem o menor fundamento. Nosso trabalho está muito positivo - afirmou Ana de Hollanda.

Quando chegou, a ministra foi questionada se deixará o cargo por causa do recebimento indevido de diárias, que já anunciou que devolverá.

- Claro que não!

Presidente do PT sai em defesa de ministra

Para defender a ministra da Cultura, entraram em ação deputados estaduais do PT, entre eles o presidente nacional da legenda, Rui Falcão.

- Queria trazer para ministra, em nome do PT, toda a nossa solidariedade. E dizer que a melhor intervenção que você pode receber é esse debate aberto com críticas, com participação - afirmou Falcão.

Com a palavra intervenção, o presidente do PT se referia, de forma irônica, à informação de que a secretária de Cultura do partido, Morgana Eneile, foi nomeada assessora especial da ministra para atuar como uma espécie de interventora com o objetivo de estancar a crise na pasta. Morgana esteve no encontro com os artistas e disse ter sido convidada para o cargo pela própria ministra, em março:

- As pessoas falam o que querem. Assessor da ministra faz o que a ministra demanda.

No fim da reunião, a assessoria da ministra solicitou a proteção da Polícia Militar para ela deixar a Assembleia sem parar para dar entrevista. A alegação era que Ana de Hollanda estava atrasada para pegar o voo para Brasília. Na saída, os PMs empurraram jornalistas e houve confusão.