Título: Artilharia pesada contra Yeda
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Fonte: Correio Braziliense, 06/08/2009, Política, p. 10

Governadora está na mira do Ministério Público e responderá a ação de improbidade administrativa. Ela pode até perder o mandato. Segundo o chefe da Casa Civil do Rio Grande do Sul, José Alberto Wenzel, a governadora Yeda Crusius recebeu a notícia ¿com serenidade¿

Porto Alegre ¿ A maldição de agosto, o mês do mau agouro na política brasileira, abateu-se sobre o Rio Grande do Sul na tarde nublada do quinto dia: uma ação civil de improbidade administrativa protocolada ontem na 3ª Vara da Justiça Federal de Santa Maria pelo Ministério Público Federal (MPF) mergulhou o estado na mais profunda crise política da sua história recente. A incerteza ronda o Palácio Piratini e cria uma interrogação sobre o que serão os próximos 17 meses do governo de Yeda Crusius. Pela primeira vez, um governador no exercício do cargo vira réu em uma ação movida pelo MPF e corre o risco de perder o posto por decisão judicial.

Yeda Rorato Crusius, a primeira mulher eleita governadora no Rio Grande do Sul, é uma das nove pessoas citadas na ação de improbidade administrativa que tentará reaver para os cofres públicos o dinheiro desviado na fraude do Departamento Estadual de Trânsito (Detran-RS). Com Yeda, transformaram-se em réus o ex-marido dela, Carlos Crusius, a assessora Walna Vilarins Meneses, o ex-secretário Delson Martini, o vice-presidente do Banrisul e ex-tesoureiro da campanha, Rubens Bordini, dois deputados estaduais ¿ Frederico Antunes (PP) e Luiz Fernando Záchia (PMDB) ¿, um deputado federal, José Otávio Germano (PP), e o presidente do Tribunal de Contas do Estado, João Luiz Vargas. ¿Não haverá moleza para esses réus¿, avisou o procurador Adriano Raldi, um dos seis membros da força-tarefa que, nos últimos meses, cruzou informações para montar o quebra-cabeça da fraude no Detran.

O conteúdo do calhamaço de 1.233 páginas, amarrado com uma fita preta e colocado sobre a mesa durante a entrevista, só é conhecido pelos procuradores e hoje deve chegar às mãos da juíza Simone Barbisan Fortes, de Santa Maria. Para montar a ação, os procuradores tomaram depoimentos e analisaram 20 mil escutas telefônicas obtidas não só na Operação Rodin, da Polícia Federal, como em outras três investigações, entre elas, a Operação Solidária. Trechos de escutas desprezados na primeira fase da Operação Rodin foram reanalisados e comparados com outras gravações para ganhar sentido. Os procuradores acreditam ter chegado à gênese da fraude, identificando novos beneficiários dos recursos desviados.

Mesmo esperando desde junho por uma manifestação do MPF, os secretários e a base aliada de Yeda na Assembleia Legislativa foram tomados pela perplexidade. Ninguém esperava que os procuradores fossem tão longe. A primeira reação pública foi subestimar a ação, argumentando que ninguém sabe exatamente quais são as acusações, mas nos bastidores o clima é de apreensão. Yeda não estava no Palácio Piratini no momento em que a bomba explodiu. Na véspera, ao saber que o MPF divulgaria as conclusões da investigação complementar da fraude no Detran, foi se refugiar no Palácio das Hortênsias, em Canela. Contrariou o conselho de assessores, que preferiam vê-la na trincheira do Piratini, defendendo-se de eventuais acusações. Ficou no Piratini, para falar pelo governo, o chefe da Casa Civil, José Alberto Wenzel.

Com o rosto vermelho e a o tom de voz acima do habitual, Wenzel insinuou que a ação de improbidade é um ato político dos procuradores. Reclamou da falta de detalhes sobre as acusações, para que cada um possa se defender, e garantiu que Yeda despachou normalmente no Palácio das Hortênsias e recebeu ¿com serenidade¿ a manifestação dos procuradores. A governadora, no entanto, teria se sentido desrespeitada pela forma como os procuradores apresentaram a denúncia.

Afastamento

Se a Justiça aceitar o pedido dos procuradores, Yeda será afastada temporariamente do cargo e ficará sujeita à perda definitiva do mandato e dos direitos políticos. Não é só: para os réus, também foi pedida a decretação da indisponibilidade dos bens, ¿a perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio¿, o ressarcimento integral do dano ao erário, o pagamento de multa e a proibição de contratar com o poder público. Seja qual for a decisão da juíza de Santa Maria, cabe recurso às instâncias superiores da Justiça.

Os procuradores não apresentaram provas nem disseram o que existe de comprometedor contra cada um dos nove réus. Alegando impedimento legal, por conta do sigilo que envolve provas obtidas por meio de escutas telefônicas, recusaram-se a detalhar as acusações. Apenas disseram que, na fraude do Detran, os réus seriam enquadrados em uma ou mais de três categorias: operadores, intermediários ou beneficiários do dinheiro desviado.

Não haverá moleza para esses réus¿