Título: Brasil rejeita imposição da Argentina para negociar
Autor: Maltchik, Roberto
Fonte: O Globo, 15/05/2011, Economia, p. 33

Governo aceita diálogo, mas avisa que barreira contra importação de veículos não será suspensa

BRASÍLIA e SÃO PAULO. A queda de braço entre Brasil e Argentina continua e o Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior rejeita qualquer imposição do vizinho para estabelecer um canal de diálogo. O governo assegura que só levantará a barreira que suspendeu a licença automática para a importação de automóveis depois que a Argentina revisar o tratamento dado a produtos brasileiros, que ficam até 120 dias parados na fronteira. Porém, destaca que está aberto ao diálogo.

O ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, e a secretária de Indústria da Argentina, Débora Giorgi, conversaram por telefone na noite de sexta e farão novo contato na segunda-feira. Na perspectiva mais otimista, a segunda conversa servirá para alinhavar a agenda de negociação, que pode incluir reunião em Foz do Iguaçu. O governo de Cristina Kirchner fez questão de vazar o seguinte recado: só conversará após o Brasil voltar a conceder licença automática para importar veículos. Para o Palácio do Planalto, tal imposição soa como bravata.

A Argentina sustenta que o Brasil não foi afetado pela ampliação, de 400 para 600, do número de itens importados incluídos em um sistema de licenças não automáticas, em fevereiro. Mas, em carta a Pimentel, o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Calçados, Milton Cardoso, informou que 880 mil pares de sapatos estão sem liberação para entrar no país vizinho. Já a Eletrolux teria 35 caminhões carregados de produtos parados na fronteira. Até ovos de Páscoa estão, um mês depois do feriado, sem licença de venda na Argentina.

Planalto teme enxurrada de carros asiáticos

O Palácio do Planalto argumenta que não pode levantar a barreira contra importação de veículos porque a medida não teria como alvo só a Argentina. O governo alega que está preocupado com uma enxurrada de veículos asiáticos.

¿ De janeiro a abril de 2010, o déficit da balança de veículos foi de US$790 milhões. Este ano, já chegou a US$1,9 bilhão. Só isso já explica a necessidade de monitorar as importações ¿ afirmou Pimentel na sexta-feira

A Argentina alega que acumula saldo comercial deficitário com o Brasil desde 2003. E pondera que, desde de quinta-feira, dois mil veículos fabricados no país estão parados na fronteira.

Em visita ao Paraguai, onde participa das comemorações pelo bicentenário da independência do país, o chanceler Antônio Patriota não se reuniu com o seu colega argentino, Héctor Timerman, para tratar do assunto.

A Abeiva, entidade que reúne importadores de veículos, informou ontem que teme prejuízos por conta de eventuais atrasos na liberação de licenças.