Título: Governo investirá na administração dos aeroportos antes da concessão
Autor: Barbosa, Flávia; Doca, Geralda
Fonte: O Globo, 15/05/2011, Economia, p. 30

Ainda este semestre, Guarulhos e Brasília terão sala especial de gestão

● BRASÍLIA. A concessão, total ou parcial, dos maiores aeroportos brasileiros à iniciativa privada será precedida de um grande esforço público para melhorar a gestão e ampliar a capacidade de uso dos terminais antes das grandes obras, disse ao GLOBO o ministro- chefe da Secretaria de Aviação Civil (SAC), Wagner Bittencourt. O plano do governo envolve ações de curto, médio e longo prazos.

Até as férias de meio de ano, os terminais de Guarulhos (SP) e Brasília, os primeiros a serem concedidos, ganharão uma sala de situação com a presença dos principais agentes no dia a dia de um aeroporto: Infraero, Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Polícia Federal (PF), Receita Federal, Departamento de Comando do Espaço Aéreo (Decea) e as companhias aéreas de voos regulares. O objetivo é acabar com o jogo de empurra dos órgãos envolvidos e fazer com que cada um assuma suas responsabilidades.

Fim da falta de coordenação elevaria capacidade em 30% Todas as áreas do aeroporto estarão cobertas por equipamentos de monitoramento e inteligência.

Bittencourt conversou pessoalmente com os ministros da Fazenda, Guido Mantega, e da Justiça, José Eduardo Cardozo, com o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito, e os presidentes das companhias aéreas, para que o pessoal destacado para a sala de situação seja qualificado, com perfil gerencial. Ele ressaltou que os escolhidos devem ser ¿solucionadores de problemas¿.

¿ Queremos que as pessoas, lado a lado, vejam como o trabalho delas afeta o dos outros, para que a solução seja construída coordenadamente. Não queremos lutadores dentro da sala, queremos solucionadores.

Todos têm de ter perfil gestor ¿ afirmou o ministro.

A ideia inicial é não instituir a Autoridade Aeroportuária, como anunciado no ano passado, que implica ¿alguém mandar nos outros¿, o que emperrou o processo.

A figura de um coordenador existirá no futuro, disse Bittencourt, mas o fundamental agora é melhorar a governança dos aeroportos. A falta de coordenação das partes envolvidas na operação de um aeroporto é tão grande que, segundo o ministro, as próprias companhias admitem que o fim desse gargalo aumentaria a capacidade da malha aérea brasileira em 30%.

Sobre os alertas de que os aeroportos não estão preparados para a Copa de 2014 e que o tempo está se esgotando, o ministro afirma que todos estão trabalhando para que as obras avancem, mas o foco não pode ser limitado: ¿ A preocupação é com o passageiro do dia a dia.

A profissionalização da Infraero ¿ cujo pontapé foi dado na última quarta-feira, com decreto autorizando a mudança de estatuto da empresa ¿ também obedece a essa orientação.

A SAC também vai reforçar os equipamentos. Em Guarulhos, por exemplo, será ampliado o número de máquinas da alfândega e quase dobrada a quantidade de postos da PF para controle de passaporte. Além disso, serão instalados radares mais possantes para auxiliar pousos e decolagens em condições climáticas desfavoráveis.

¿ O modelo é o das salas de situação das concessionárias de rodovias. Todos estão lá; da empresa, da Polícia Rodoviária Federal, dos órgãos estaduais.

Na hora em que acontece um problema, um acidente, uma retenção, todos veem ao mesmo tempo e já tomam as decisões ¿ explicou o ministro.

Para ministro, Galeão pode voltar a ter papel central Bittencourt completaria 36 anos de BNDES em julho se não tivesse aceitado o desafio de ser a primeira autoridade civil independente a cuidar da caótica infraestrutura aeroportuária brasileira.

Para o ministro, o desafio é gigantesco e é preciso mudar a cultura atual dos aeroportos.

¿ Gestão é tudo nesta vida ¿ afirmou ele, que no BNDES fez parte do grupo de estudo sobre a situação dos aeroportos.

Já a médio e longo prazos, o planejamento estratégico passa pela definição de quais aeroportos serão concedidos, quais ficarão com a Infraero, quais precisarão ser construídos.

O ministro acredita que o Galeão pode voltar a ter um papel central na recepção e na distribuição de voos, perdido nas duas últimas décadas. Ele garantiu que aéreas brasileiras e estrangeiras têm manifestado a intenção de elevar a oferta de voos a partir do Rio, e a TAM seria a locomotiva desse movimento.

Mas alertou que é preciso haver incentivos, pois o Galeão tem de ser economicamente viável para as empresas.

Ele afirmou não haver dogma quanto ao modelo de administração e/ou construção dos terminais: ¿ Pode ser concessão administrativa, PPP (Parceria Público- Privada), porteira fechada (privatização integral), passar para estados e municípios.

Tudo pode. Mas, neste momento, estamos estudando.