Título: Temor de erosão e morte de peixes
Autor: Nogueira, Danielle
Fonte: O Globo, 15/05/2011, Economia, p. 29

Cerca de 90 famílias terão de ser desalojadas na região, diz Codin

THEODORA E os netos ainda moram em rua de terra: desconfiança

AGRICULTOR EM meio à sua plantação de abacaxi: resistência

O Porto do Açu vai ocupar uma área de 20km e uma profundidade de 21 metros. Com essas dimensões, pesquisadores que acompanham as obras temem impactos ambientais, como morte de peixes e tartarugas e alterações no processo de deposição de sedimentos, que poderiam provocar erosão em algumas áreas e assoreamento de outras.

¿ Intervenções semelhantes, como a de Barra do Furado (vila que fica entre Campos e Quissamã), alteraram o comportamento da sedimentação na área. O mesmo pode ocorrer com o Porto do Açu ¿ diz o historiador ambiental Aristides Arthur Soffiati, pesquisador da UFF.

Ele também teme que a escavação para o canal do estaleiro que se instalará nas proximidades do porto provoque a morte de peixes e tartarugas.

O presidente da LLX, Otávio Lazcano, rebate as preocupações afirmando que a empresa tem uma parceria com o projeto Tamar para proteção das tartarugas. Também enfatiza que são investidos cerca de R$50 milhões em programas socioambientais em São João da Barra.

Reunião de conciliação com produtores rurais será amanhã

Além da questão ambiental, os pesquisadores alertam para conflitos sociais por causa do empreendimento. Além do porto, será erguido na região um distrito industrial, que ocupará 70km. A área, que foi considerada de utilidade pública em decreto do governador Sérgio Cabral, vem sendo desapropriada em meio à resistência de alguns produtores rurais. Na primeira fase, serão 2.112 lotes urbanos e 151 rurais. Na área rural, 15 famílias vão perder suas terras. Nas três fases, ainda sem data para conclusão, 90 famílias terão de deixar suas propriedades.

Segundo a Companhia de Desenvolvimento Industrial do Estado do Rio de Janeiro (Codin), responsável pelas desapropriações, elas terão direito à indenização ¿ de R$280 mil por lote em média ¿ ou poderão ser reassentadas. Cada família receberá um terreno, de até 10 hectares, com uma casa equipada com eletrodomésticos.

A família de Georgina de Almeida, de 71 anos, é uma das que estão na rota das desapropriações. Mãe de 13 filhos, ela vive do plantio do abacaxi e do maxixe e não quer deixar suas terras:

¿ Nasci e cresci aqui. Não quero sair ¿ diz, em lágrimas.

O movimento de resistência é articulado pela Associação dos Produtores Rurais e Imóveis de São João da Barra (Asprim), criada há seis meses. Para a presidente da Codin, Conceição Ribeiro, não há volta atrás:

¿ É um ato duro, mas tem de ser feito ¿ afirma.

A próxima reunião de conciliação entre produtores e Codin é amanhã em São João da Barra. (D.N.)