Título: Procurador-geral diz que é preciso mais informações para formar juízo
Autor: Alencastro, Catarina ; Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 18/05/2011, O País, p. 4

BRASÍLIA. O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, disse ontem que quer ter acesso a informações mais detalhadas sobre como o ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, acumulou recursos para a compra de imóveis no valor de mais de R$7 milhões, no ano passado, quando era deputado federal. Gurgel disse que vai analisar a representação protocolada ontem pelo PPS com pedido de esclarecimentos sobre a evolução patrimonial de Palocci para decidir se abre ou não investigação neste sentido.

- Eu já me preparava para pedir informações a respeito. Mas hoje (ontem) será entregue representação que vou analisar. Qualquer fato que envolva autoridades públicas merece olhar mais cuidadoso. É preciso reunir informações para formar juízo - disse Gurgel.

Ao "Jornal Nacional", da Rede Globo, afirmou que "os dados disponíveis hoje, noticiados pela imprensa, são absolutamente insuficientes para formar qualquer juízo".

Na Câmara, a oposição se articulou e apresentou diferentes requerimentos relacionados ao aumento de patrimônio de Palocci: querem tratar do assunto na Câmara, na PGR e até no Conselho de Controle de Atividades Financeiras. Estão na pauta de votação da Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Casa seis requerimentos de deputados de oposição para convocar Palocci e também o presidente da Comissão de Ética Pública, Sepúlveda Pertence.

- Como é que o presidente da Comissão de Ética Pública diz que as informações são suficientes sem que haja detalhamento? - justificou o líder do DEM, ACM Neto (BA).

Sepúlveda: dado de um imóvel só

Segundo o "Jornal Nacional", Pertence reafirmou ontem que, na consulta à Comissão, o ministro Palocci não informou a existência de dois imóveis, mas apenas de um. E não revelou à Comissão o valor desse imóvel. Repetiu também que não cabe à Comissão analisar patrimônio adquirido antes de se tornar ministro, e que, por isso, não há razão para investigar Palocci.

Mas o governo já se movimenta para evitar que os requerimentos sejam aprovados. Uma das estratégias deverá ser esvaziar o quórum. A comissão é presidida pelo deputado Sérgio Brito (PSC-BA), partido da base aliada, e a maioria dos integrantes é de partidos governistas.

- Vamos trabalhar para não aprovar. Os requerimentos foram apresentados para fazer a disputa política. Palocci informou tudo antes. Se formos partir para este tipo de ataque, teremos que entrar com requerimento para ver a evolução patrimonial de deputados da oposição que ocuparam secretarias de estado - avisou o líder interino do PT, Pepe Vargas (RS).

Ao recorrer à Procuradoria-Geral da República, o PPS listou questões que quer ver esclarecidas: quais clientes a empresa de Palocci atendeu, o faturamento, que tipo de serviço era prestado, por que o ministro, com 99,9% do capital social da Projeto, não optou por fazer a retirada de lucro e registrar os imóveis em seu nome, entre outras.

O líder do PPS, Rubens Bueno (PR), enfatiza que, como homem público, Palocci deve explicações à sociedade:

- Se está encerrado para ele, para nós não. O governo está jogando todas as suas fichas para abafar o caso.

Em outra frente, o PSDB da Câmara entrou com requerimento no Ministério da Fazenda, endereçado ao Coaf, indagando, entre outras coisas, se foram detectadas ocorrências atípicas nas transações bancárias efetuadas por Palocci ou pela empresa dele.

O líder do governo, Cândido Vaccarezza (PT-SP), usou a tribuna da Câmara para dizer que Palocci já deu as explicações e que, para o governo, esta é uma "página virada" e que a confiança em Palocci é de 100%.

- A lei permite que deputado tenha outras atividades. Palocci não escondeu do Imposto de Renda, não colocou o apartamento em nome de terceiros. Esse é um debate superado. Se tivesse havido qualquer ato ilícito, o primeiro a investigar seria o governo - disse Vaccarezza.

No Senado, os três partidos de oposição (PSDB, DEM e PPS) endossaram a representação do PPS. Cauteloso, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) enfatizou que o objetivo não é prejulgar:

- Não é nosso interesse criar um movimento de desestabilização do governo. O interesse é do próprio ministro em dar as explicações para não deixar dúvidas. É hora de ter serenidade e firmeza para cobrar esclarecimentos - disse Aécio, evitando comentar a posição de José Serra que saiu em defesa de Palocci.

E, evento no Rio ontem, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, defendeu o colega Palocci:

- Não vi qualquer ilegalidade denunciada. O ministro Palocci tem a minha confiança pessoal, e não vejo nada nesse episódio que possa abalar sua vida pública.