Título: Cid tem estrada nova já cheia de buracos
Autor: Martin, Isabela
Fonte: O Globo, 18/05/2011, O País, p. 10

FORTALEZA. Depois de xingar de "inepto, incompetente e desonesto" o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, por causa dos buracos nas estradas federais do Ceará, agora é o governador Cid Gomes (PSB) quem está sendo cobrado a explicar o mau estado de conservação de uma rodovia estadual inaugurada com festa há apenas dois meses, obra que custou R$20,7 milhões.

Com cerca de 40 km de extensão, a CE-168, que liga os municípios de Itapipoca e Itapagé, na região norte do estado, já acumula buracos, rachaduras e deformações no asfalto apenas 75 dias após ser entregue, numa solenidade que reuniu deputados federais, estaduais e prefeitos da região.

As falhas da CE-168 serão denunciadas ao Tribunal de Contas do Estado (TCE) pelo deputado Heitor Férrer (PDT), presidente da Comissão de Viação e Transportes da Assembleia Legislativa e que faz parte da bancada de oposição ao governador. O deputado quer que o TCE fiscalize o contrato e a obra. Além disso, Férrer vai entrar com uma representação no Ministério Público Estadual para que seja verificada a possibilidade de superfaturamento.

Governador protesta contra estradas federais ruins

No ultimo domingo, enquanto o governador participava de um rally na BR-222 como forma de protesto contra as condições ruins das rodovias federais no Ceará, o deputado pedetista percorria a CE-168 fotografando as imperfeições.

- A areia está pintada de piche. O governador cobra do Ministro (dos Transportes) a responsabilidade pelo estado ruim das federais. Disse que ele é inepto, incompetente e desonesto. E ele, o que é ? É omisso, cúmplice ou ingênuo? - disse Férrer, acrescentando que nesse caso é "o sujo falando do mal lavado". - Agora ele tem que cobrar do seu governo.

O deputado quer esclarecer como uma rodovia recém-inaugurada apresenta um piso de estrada que perdeu a validade. Ele decidiu convidar para a Comissão de Viação e Transportes, na próxima terça-feira, na Assembleia do Ceará, representantes do Departamento Estadual de Rodovias (DER), órgão estadual responsável pela medição, fiscalização de obra e pagamento, do TCE, e da empresa Engexata Engenharia Ltda, responsável pela execução do serviço.

DER reconhece falhas na pavimentação da CE-168

O diretor de engenharia rodoviária do DER, André Pierre, reconheceu que a CE-168 está com problemas. Também admitiu que não é normal um desgaste tão rápido e afirmou que a vida útil média de um asfalto é de dez anos.

Para André Pierre, as fortes chuvas que castigaram a região, a erosão de encostas ou mesmo o tráfego de caminhões pesadas fugindo dos buracos das BRs podem ter contribuído para o desgaste rápido do asfalto. Segundo ele, o piso não foi feito para suportar a passagem contínua de veículos pesados.

- Não é comum esse desgaste tão rápido. Por isso estamos indo a campo - disse Pierre, anunciando a presença hoje de uma comitiva na CE-168 e que incluirá representantes da Engexata e projetistas da obra. O diretor informou também que a empresa responsável pela obra já foi notificada sobre os problemas.

- Para tranquilizar a população e o próprio deputado, que é vigilante, todas as providências serão tomadas e o DER vai entregar a estrada reestruturada - afirmou.

Segundo ele, a obra tem garantias e ainda não foi emitido o recebimento definitivo da estrada. Pierre acrescenta que se houver problemas com a qualidade, a empresa será obrigada a entregar a rodovia de acordo com as normas técnicas padrões. Problemas pontuais, segundo o diretor, são esperados uma vez que o governo estadual realizou nos últimos cinco anos interferência em três mil quilômetros, entre restauração e implantação de novas rodovias.

A obra da CE-168 faz parte do Programa Rodoviário de Integração Social do Estado do Ceará III, que tem o objetivo de construir e recuperar a malha viária cearense. Ao todo, foram investidos R$20,7 milhões do Tesouro do Estado e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

A entrega da CE-168 foi muito comemorada. A rodovia é considerada fundamental para o desenvolvimento de Itapipoca e Itapagé, e chega a reduzir de 70 para 33 quilômetros a distância entra as duas cidades. A pavimentação da rodovia - antes uma estrada de pedra e barro - também foi vista como garantia de mais segurança para quem trafega.