Título: Câmara tentará recuperar dinheiro de carros
Autor: Schmidt, Selma
Fonte: O Globo, 18/05/2011, Rio, p. 15

Depois de muita discussão em uma reunião fechada de uma hora e meia com 41 dos 51 vereadores do Rio, a Mesa Diretora da Câmara anunciou ontem, numa nota curta, que decidiu cancelar a compra de 51 Jettas, no valor total de R$3.528.088,20, já pagos à montadora Volkswagen, mas ainda não entregues. A Mesa Diretora informou ainda que determinou à Diretoria de Administração da Casa ¿que promova os atos necessários à devolução dos recursos¿. A assessoria da Volkswagen disse, no início da noite, que a empresa não iria se pronunciar por ainda não ter recebido informação oficial da Câmara.

O presidente do Legislativo carioca e da Mesa Diretora, Jorge Felippe (PMDB), também permaneceu em silêncio. Vereadores que estiveram na reunião contaram que 21 dos 41 presentes se manifestaram a favor de manter a compra, um foi embora e 19 se posicionaram contra. A decisão, no entanto, coube à Mesa Diretora, que havia aprovado os carros em março. Ainda de acordo com os participantes da reunião, com os votos de Patrícia Amorim (PSDB), Carlo Caiado (DEM) ¿ ambos voltaram atrás ¿ e de Leonel Brizola Neto (PDT), foi decidido o cancelamento. Os outros dois membros da Mesa Diretora ¿ Jorge Felippe e Doutor Jairinho (PSC) ¿ mantiveram a posição anterior.

Câmara tem hoje 10 Kombis, 10 Gols e 6 Santanas

O modelo escolhido para ser carro oficial dos vereadores era a versão 2012 do Jetta: um carro completo, com quatro airbags, freios ABS, sensor de estacionamento dianteiro e traseiro, CD player com MP3, bluetooth e até bancos de couro. A compra foi feita sem licitação, sob a alegação de que a Casa queria um carro específico.

¿ Todo mundo tem carro. Por que vereador não pode ter? ¿ perguntou S. Ferraz (PMDB) ao sair da reunião ontem, acrescentando que os deputados têm veículos oficiais.

A Câmara tem 51 cadeiras. Dois vereadores, no entanto, não poderiam usufruir dos carros por estarem presos: Luiz André Deco, acusado de chefiar uma milícia em Jacarepaguá, e Fausto Alves, suspeito de homicídio. Logo depois de a compra dos veículos ter vindo à tona, sete vereadores informaram oficialmente que não queriam a regalia: Paulo Pinheiro (PPS), Eliomar Coelho (PSOL), Andrea Gouvêa Vieira (PSDB), Tio Carlos (DEM), Teresa Bergher (PSDB), Carlos Bolsonaro (PP) e Brizola Neto. Diante da polêmica, o número de políticos que decidiram recusar a mordomia chegou a 20.

Segundo Paulo Pinheiro, apesar de negativo para o Legislativo, o episódio da aquisição dos Jettas teve um ponto positivo:

¿ Ao protestar contra a compra, a população deu uma lição de cidadania. É preciso que a população participe sempre e cada vez mais.

Já Andrea Gouvêa não vê no caso um enfraquecimento da Câmara.

¿ Ao contrário, acho que houve um fortalecimento do Legislativo ¿ disse Andrea, acrescentando que os recursos destinados aos veículos voltarão para o orçamento do Legislativo municipal. ¿ Poderão ser usados, por exemplo, para melhorar as condições dos elevadores e os sistemas de ar-condicionado e de telefonia. A limpeza da Casa também está inaceitável.

Os vereadores do Rio não têm carro oficial, mas a Câmara dispõe de 26 veículos. O dado consta de um requerimento de informações feito à Mesa Diretora por Teresa Bergher, presidente da Comissão de Ética. São dez Kombis, dez Gols e seis Santanas, que ficam a serviço da presidência, da primeira secretaria e das comissões da Casa. Os vereadores recebem auxílio combustível de mil litros por mês.

Câmara acha possível acordo com montadora

Oficialmente, a presidência não explicou qual será o destino do dinheiro dos Jettas, se ele realmente voltar para a Câmara. Também nada disse sobre o andamento dos entendimentos com a Volkswagen. Vereadores que estiveram na reunião de ontem escutaram de Felippe que a informação que chegou a ele, do setor administrativo da Câmara, é que não haverá dificuldades para se chegar um acordo com a montadora, que, no entanto, poderá fixar uma multa pela desistência.

O valor total dos 51 carros já foi pago à montadora. Na última sexta-feira, Felippe havia informado que tinha repassado à empresa apenas R$2.282.880,60 (referentes a 33 carros), em abril. Ontem, porém, sua assessoria informou que ele tinha se equivocado e confirmou o envio de duas outras ordens de pagamento (de R$691.782 e R$553.425,60).

O ELEITO DOS VEREADORES no suplemento CARROetc