Título: Ataque de Renan incendeia plenário
Autor: Rothenburg, Denise; Pereira, Daniel
Fonte: Correio Braziliense, 07/08/2009, Política, p. 3

Um tiro no pé. Assim, senadores governistas classificaram o discurso do líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), sobre a representação contra o tucano Arthur Virgílio (AM). Em vez de contribuírem para a redução da pressão pela renúncia de José Sarney (PMDB-AP) da Presidência da Casa, as declarações de Renan teriam incendiado a crise, além de estimular os oposicionistas a reorganizar forças e voltar para o centro do embate. ¿Foi de uma violência atroz. Esse troço não acabará bem¿, disse um aliado dos dois caciques peemedebistas. ¿A crise estava arrefecendo. Agora, voltou a ficar ruim para o Renan e para o governo¿, acrescentou outro parlamentar.

Como na segunda-feira, as entranhas do Senado foram expostas ontem. Da cadeira de presidente, Sarney assistiu, visivelmente constrangido, ao duelo entre Renan e o tucano Tasso Jereissati (CE). Depois de o líder peemedebista ler a representação contra Virgílio, Jereissati pediu que a Mesa Diretora ordenasse a retirada de um senhor que acompanhava a sessão e segundo a bancada tucana fazia troça durante o discurso de Renan. Foi o estopim para uma intensa troca de ofensas e acusações.

¿Essas crises acontecem por isso. A minoria com complexo de maioria quer expulsar um cidadão que está participando desta sessão¿, alfinetou Renan. ¿Ele não está participando, está fazedo piada¿, respondeu Jereissati. Falando fora do microfone, Renan, com o dedo em riste, continuou as críticas. ¿Não aponte esse dedo sujo para cima de mim, estou cansado de suas ameaças¿, disse Jereissati. ¿O dedo sujo, infelizmente, é de Vossa Excelência. São os dedos dos jatinhos que o Senado pagou¿, atacou Renan, referindo-se à denúncia de que Jereissati teria usado dinheiro público para pagar uma aeronave.

O plenário silenciou, e os dois continuaram a trocar acusações. ¿Pelo menos, o dinheiro é meu. Eu tenho para falar. O jato é meu. Não do que você leva dos seus empreiteiros¿, devolveu o tucano. Ainda distante dos microfones, Renan chamou o colega de plenário de ¿coronel de m...¿. Jereissati disse que o senador alagoano estava quebrando o decoro e pediu que fosse feita uma representação. A sessão foi suspensa por dois minutos.

Análise da notícia Alguém tem que ceder

O líder do PT Aloizio Mercadante (SP) será daqui para frente um homem em conflito. E cada vez mais. A oposição fará tudo para que ele e a bancada petista fiquem cada vez mais constrangidos ao lado do PMDB. A ordem é mostrar que os peemedebistas não têm escrúpulos nem limites na hora de preservar seus interesses, e os tucanos farão isso com provocações em plenário, como a de ontem, quando Renan Calheiros (PMDB-AL) chegou o ponto de chamar o cearense Tasso Jereissati de ¿coronel de m..¿. A oposição tem um trunfo para tentar atrair o PT: DEM e PSDB volta e meia comentam nos bastidores, mas não representam contra a petista Serys Slhessarenko, que, como Arthur Virgílio, pagou salário a uma funcionária que morava no exterior.

O PMDB também tem cartas na manga para segurar o PT, como a CPI da Petrobras. Mercadante sabe disso e tenta buscar hoje uma saída honrosa para a sua bancada, investigando algum caso que envolva Sarney. Por enquanto, a negociação da saída da crise está entre PT e PMDB. E a tendência é que continue por aí. Está cada vez mais próxima a hora em que alguém vai ter de ceder. E Mercadante espera que seja o PMDB, para que ele deixe de ser um senador em conflito e consiga algum espaço para ajudar a preservar Sarney e a imagem da bancada. (DR)