Título: PMDB e PT: relação tensa nos estados
Autor: Pariz, Tiago
Fonte: Correio Braziliense, 07/08/2009, Política, p. 4

Desavenças no período pré-eleitoral em oito unidades da federação indicam que Lula terá trabalho para consolidar a aliança em torno da candidatura da ministra Dilma. Geddel Vieira Lima, ministro de Lula, anunciou que cargos do PMDB no governo do PT baiano serão devolvidos

Edilson Rodrigues/CB/D.A Press - 9/10/06 Jaques Wagner, governador da Bahia, diz que Geddel jogou o PMDB no ¿colo do DEM¿. Lula promete agir

A temperatura entre o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima (PMDB), e o governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), que já era quente, esquentou ainda mais. E acendeu a luz amarela no gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que trabalha para consolidar o apoio dos peemedebistas à candidatura da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, à Presidência da República.

Geddel anunciou que os cargos que o PMDB ocupa no governo baiano deverão ser devolvidos a Wagner. O partido ocupa duas secretarias, a de Desenvolvimento e a de Infraestrutura, além de cerca de 100 postos de confiança, segundo estimativas dos petistas. Wagner correu para o telefone para dizer a Lula que a responsabilidade pelo acirramento dos ânimos era de Geddel. ¿A culpa não é minha de jogar o PMDB no colo do DEM¿, disse Wagner ao presidente, segundo relato ouvido pelo Correio. Lula prometeu agir para acalmar a situação.

O cenário na Bahia é só um prenúncio do desafio que Lula terá pela frente para unificar os aliados em torno de Dilma Rousseff. A mesma conjuntura se repete em outros sete estados: Minas Gerais, Pará, Ceará, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná (veja quadro).

Lula quer que as direções estaduais privilegiem o acordo com os partidos aliados e rejeitem candidaturas próprias. O presidente já começou a trabalhar por uma solução para São Paulo, onde ele defende o lançamento do deputado pelo PSB do Ceará, Ciro Gomes. Os petistas insistem que não podem se tornar um partido menor. ¿O PT tem muita força em São Paulo. Um palanque forte para a ministra Dilma é aquele que defenda o governo com competência¿, disse o pré-candidato e prefeito de Osasco, Emídio de Souza.

Cada estado terá uma agenda política específica. Haverá atenção especial às unidades da federação que representam o maior número de delegados do PMDB na convenção nacional, última instância partidária para definir a aliança eleitoral. Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná e Mato Grosso do Sul encabeçam a lista. Lula quer que o PT abdique da candidatura própria para apoiar os peemedebistas, que em pesquisas aparecem com melhores chances de vitória.

Hoje, o caso mais avançado de deterioração da relação é no Pará. Depois de anunciar a retirada do apoio à governadora Ana Júlia Carepa (PT), o deputado Jader Barbalho (PMDB-PA) está quase fechado com o PSDB. Os tucanos ofereceram ao parlamentar uma vaga ao Senado e a escolha do outro nome a disputar as duas vagas na chapa de oposição. ¿É uma proposta irrecusável¿, comentou um peemedebista. ¿Mas é possível reverter. Se o PT fizer a mesma proposta e não disputar o Senado, o Pará fecha com Dilma¿, emendou. Um peemedebista minimizou a importância do Pará e disse que Lula pode se dar ao luxo de não atender Jader se fizer aliança com o Paraná, do governador Roberto Requião. A preocupação com os estados deve-se aos números da Convenção Nacional do PMDB. Sem o apoio dos mais fortes, a aliança com o PT não sai.

Um palanque forte para a ministra Dilma é aquele que defenda o governo com competência¿

Emídio de Souza, prefeito de Osasco (PT)

Obstáculos à aliança

Bahia A desavença entre o governador Jaques Wagner (PT) e o ministro Geddel Vieira Lima (PMDB) teve início na eleição municipal do ano passado e não dá sinais de se resolver. O ministro determinou que os cargos nas duas secretarias que o partido ocupa sejam devolvidos ao governador.

Ceará Sem aval do presidente Lula, o ministro da Previdência, José Pimentel (PT), intensificou a propaganda no estado para se viabilizar como candidato ao Senado, o que incomodou o deputado Eunício Oliveira (PMDB).

Pará O deputado Jader Barbalho (PMDB) abandonou o governo de Ana Júlia Carepa (PT) e flerta com a oposição. O PSDB fez uma proposta irrecusável: o apoia para tentar uma vaga ao Senado e abre mão da disputa pela segunda vaga.

Minas Gerais Parte do PT não aceita compor com o PMDB e apoiar uma candidatura ao governo do ministro Hélio Costa (PMDB). Setores petistas, liderados pelo ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel querem candidatura própria.

São Paulo O PT paulista não aceita imposição de um candidato de fora, no caso o deputado federal pelo Ceará Ciro Gomes, como quer o presidente Lula. Argumenta que não pode tornar-se um partido menor no maior colégio eleitoral do país.

Paraná O PMDB cobra do PT apoio ao candidato do governador Roberto Requião. O ministro Paulo Bernardo (PT) resiste à ideia.

Operação ¿fica Marina¿

O presidente do PT, Ricardo Berzoini, encontrou-se ontem com a senadora Marina Silva (PT-AC) para tentar dissuadi-la de deixar o partido para se lançar na corrida pela Presidência da República pelo PV. A ministra afirmou ao dirigente ter ficado surpresa com a proposta dos verdes e que analisa a desfiliação. Ela considera que a questão ambiental foi colocada em segundo plano pelo Partido dos Trabalhadores.

O PV apresentou a Marina Silva uma pesquisa eleitoral em que ela apareceria com cerca de 10% das intenções de voto. Como ela assumiu publicamente a sondagem, o PT deu início a uma operação intensa para evitar sua saída. O temor é de que a candidatura acabe por desidratar a da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff.

¿A candidatura da Marina seria um fato novo que criaria sérios problemas para o PT. Por isso, devemos fazer todos os esforços para convencê-la a ficar conosco¿, disse o colega de partido e de estado Nilson Mourão, deputado que disse ter dado início à operação ¿fica Marina¿.

Além de Mourão e Berzoini, o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel foi escalado para conversar com a senadora acreana. Pimentel é um dos coordenadores da futura campanha de Dilma. Na avaliação de colegas, a senadora só não deixará o PT caso o partido abra mais espaço para ela discutir as questões ambientais. O problema é que ela deixou o Ministério do Meio Ambiente por achar que estava sendo colocada de lado. (TP)