Título: Aldo,o comunista que negociou com ruralistas e não conseguiu consenso
Autor: Alencastro, Catarina
Fonte: O Globo, 12/05/2011, O País, p. 4

BRASÍLIA

Nas últimas semanas, o ex-líder estudantil e militante comunista deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) acabou virando o elo entre governo e ruralistas. Relator do projeto que altera o Código Florestal, Aldo discutia com o governo o texto, acertava ponto a ponto e depois levava um rascunho para os ruralistas, que apresentavam suas sugestões. Por conta disso, muitas vezes representantes da Presidência da República davam como certo o que tinham combinado com o relator, mas ficavam surpresos ao ver o texto que resultava das conversas. Esse vaivém abalou a confiança de setores do Palácio do Planalto, e a Casa Civil passou a informar que não reconhecia o texto de Aldo como o negociado na Esplanada. A questão da liberação dos produtores com até quatro módulos fiscais de reflorestar Área de Preservação Permanente (APPs) foi um dos pontos que mais causaram problemas.

O governo queria que apenas a agricultura familiar fosse beneficiada. A pedido dos ruralistas, Aldo não abria mão de abrigar todos aqueles com até 400 hectares de terra. Palocci se irritou por Aldo chegar de mãos abanando No fim de semana, Aldo foi informado de que o governo aceitava incluir os pequenos agricultores cooperativados e gostou da ideia, afirmando que isso solucionava o problema. No entanto, os deputados ruralistas manifestaram desagrado com as concessões ao governo, e Aldo voltou à estaca zero, decidindo não recuar de sua proposta original de liberar todos os produtores com quatro módulos. Mas o relator também frustrou parte da bancada do agronegócio ao retirar do texto a redução da faixa mínima de proteção da vegetação nativa às margens dos rios de 30m para 15m. Na etapa final das conversas, na noite de terça-feira, após mais um adiamento por falta de acordo, o chefe da Casa Civil, ministro Antonio Palocci, chamou Aldo para ajustar o texto.

O relator chegou à Casa Civil de mãos abanando, sem texto algum sobre o qual negociar. Palocci ficou irritado, dizendo que assim não dava para votar, e deu a Aldo prazo até 12h30m de ontem para apresentar o novo texto. Se não, começaria a trabalhar para adiar a votação mais uma vez. Nos dias que antecederam a votação, Aldo chegava cedo ao seu gabinete e logo começava a receber deputados da Frente Parlamentar da Agricultura. Um dos principais líderes dos ruralistas, o deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO) era recebido quase diariamente por Aldo. -O artigo 1 da proposta do Aldo ele tirou do meu projeto, o 5367 (que também propõe alterações ao Código Florestal). Ajudei a escrever muito deste relatório dele. -Ele colocava as dificuldades que estava enfrentando nas negociações com o governo e nós dizíamos a ele que ele tinha que ser firme, e não colocar tudo o que o governo quer - disse Valdir Colatto, membro da bancada ruralista.