Título: Indiciado, ex-diretor do FMI ganha direito a prisão domiciliar
Autor: Godoy, Fernanda
Fonte: O Globo, 20/05/2011, O Mundo, p. 35

Júri aceita acusações de crimes sexuais; Strauss-Kahn paga fiança de US$1 milhão, deixa US$5 milhões em garantia e terá de usar tornozeleira eletrônica

NOVA YORK. O ex-diretor-gerente do FMI Dominique Strauss-Kahn conseguiu autorização judicial para deixar a prisão de Rikers Island, em Nova York, mediante fiança de US$1 milhão, entrega do passaporte, uma permissão para eventual extradição e o compromisso de ficar em prisão domiciliar em Manhattan. A denúncia contra Strauss-Kahn, por agressão sexual e tentativa de estupro, foi aceita formalmente ontem pela Justiça de Nova York, horas depois de ele renunciar ao comando do FMI.

Strauss-Kahn é acusado de ter atacado sexualmente uma camareira de 32 anos, que entrou na suíte que ele ocupava no Hotel Sofitel para arrumá-la, no último sábado. Segundo o relato apresentado por ela aos jurados que aceitaram ontem a denúncia, Strauss-Kahn saiu do banheiro nu e a atacou, perseguindo-a pela suíte, trancando a porta e obrigando-a a praticar sexo oral e anal com ele.

Ele foi preso no aeroporto JFK a bordo de um avião da Air France, prestes a decolar para Paris, e a Promotoria alegou risco de fuga para pedir à Justiça que Strauss-Kahn permanecesse preso até o julgamento.

Vigilância eletrônica por US$200 mil mensais

Ontem, o juiz Michael Obus aceitou os argumentos dos advogados de defesa de Strauss-Kahn, que sustentaram que seu cliente não tinha intenção de fugir e pretendia apenas limpar seu nome. Eles entregaram também o laissez-passer, documento diplomático a que DSK tinha direito como dirigente do FMI. Os promotores continuaram se opondo à libertação.

- Ele tem a estatura e os recursos para não ser um fugitivo comum, e sim para ter uma vida de facilidades e conforto em partes do mundo que estão fora da jurisdição dos tribunais americanos - afirmou o promotor John McConnell.

Além do dinheiro da fiança - que normalmente é devolvido no final do julgamento - DSK dará como garantia um seguro de US$5 milhões e arcará com os custos de uma firma de segurança para monitoramento eletrônico (ele terá de usar uma tornozeleira com chip) e colocará câmaras de vídeo e guardas armados 24 horas por dia no prédio de Manhattan onde ele ficará morando.

Apesar de ter modificado a decisão da juíza Melissa Jackson, que recusara a fiança na segunda-feira, o juiz Obus advertiu Strauss-Kahn de que o mínimo desrespeito às regras acordadas o levará de volta à cadeia.

A empresa escolhida para o monitoramento dos passos de DSK foi a Stroz Friedberg, a mesma que cuidou da vigilância de Bernard Madoff, a um custo estimado em US$200 mil mensais, de acordo com o jornal "Washington Post".

- Para ser franco, eu ia pedir libertação sob fiança sem outras condições, mas parece que nestas circunstâncias, diante das fortes objeções da acusação, nós aceitamos as condições mais onerosas porque a necessidade de ele (Strauss-Kahn) ser libertado é extrema, e também porque é seu direito - disse um dos advogados do ex-chefe do FMI, William Taylor.

O apartamento em que o acusado vai morar até o julgamento - que deve acontecer dentro de um prazo de seis meses - já foi alugado pela mulher dele, a jornalista francesa Anne Sinclair, nascida em Nova York. Ontem, ela estava na primeira fila na sala do tribunal penal de Manhattan onde o pedido de fiança foi julgado, de mãos dadas com a filha dele, Camille Strauss-Kahn, que mora em Nova York. De barba feita, vestindo terno cinza e camisa azul (sem gravata), Strauss-Kahn parecia mais bem disposto do que em suas primeiras aparições diante das câmeras após a prisão. Ele deve deixar a prisão de Rikers Island hoje.