Título: É a vez da poupança
Autor: Cristino, vãnia; Bancillon, Deco
Fonte: Correio Braziliense, 07/08/2009, Economia, p. 14

Dados do Banco Central revelam que, em julho, a caderneta teve uma captação líquida de R$ 6,6 bi. O melhor resultado desde 2007

A resistência dos bancos em baixar a taxa de administração dos fundos de investimento, aliada à queda da taxa Selic, acabou por transformar a velha caderneta de poupança em uma das melhores aplicações do mercado. Prova disso é que a captação líquida da poupança ¿ diferença entre os depósitos e os saques ¿ ficou positiva em R$ 6,672 bilhões em julho, segundo dados divulgados ontem pelo Banco Central. É o melhor resultado mensal da caderneta desde dezembro de 2007, quando o ingresso de recursos, encorpado pelo 13° salário, somou R$ 9,134 bilhões.

Para tirar a prova do quanto a poupança se tornou rentável, o professor César Frade, do Ibmec, fez uma simulação a pedido do Correio para um investimento de R$ 1 mil. Ele projetou o rendimento da caderneta e do fundo de renda fixa para os próximos 12 meses. No caso do fundo, Frade levou em conta o Imposto de Renda de 15% incidente sobre os ganhos e as taxas de administração cobradas pelos bancos. A vantagem da caderneta ficou evidente. Seu rendimento no período, de 7,21%, superou até mesmo o fundo com taxa de administração de 1% ¿ ganho de 6,15%.

O professor constatou que, quanto maior a taxa de administração, menor é o rendimento do investidor. Se a taxa for de 4%, o ganho líquido em um ano será de apenas 3,46%. ¿Mais do que nunca, os investidores têm de ficar atentos à taxa de administração dos fundos de investimentos. É ela que determinará se eles estão fazendo um bom negócio ou não¿, aconselhou Frade. E os investidores parecem estar seguindo à risca a receita. A captação líquida dos fundos, em julho, foi de pouco mais de R$ 1,5 bilhão ¿ 22% do saldo líquido da caderneta.

Cofre seguro

O engenheiro Fábio Resende é um investidor que, mesmo tendo um amplo leque de aplicações à disposição, não deixa a poupança de lado. ¿O Brasil caminha para uma taxa de juros reais de 4% ao ano. Nesse cenário, fundos de investimento são pouco atrativos, já que a taxa média de administração está hoje em 2,5%¿, afirmou. Resende está convencido de que, para o pequeno e médio investidor, que tem até R$ 10 mil para aplicar, a poupança é o melhor investimento.

O conselho de Resende é o mesmo que vem sendo dado pelos gerentes dos bancos. O Correio percorreu quatro instituições, sendo três privadas e uma estatal , para averiguar qual a melhor aplicação para um investimento de R$ 1 mil. Em todas, a orientação foi uma só: aplicar na poupança. ¿Se você busca rentabilidade, tem que procurar os extremos. Ou é conservador e investe na poupança, ou é ousado e aplica em fundos de ações¿, orientou um gerente.

O empresário João Feijão optou pelo conservadorismo. ¿Já invisto na poupança há mais de 35 anos. Fiquei muito decepcionado com o episódio Collor (confisco dos recursos em 1990), mas permaneci investindo¿, contou. Persistente, João se manteve como aplicador mesmo durante as crises financeiras, quando as taxas de juros disparavam e, com elas, os lucros dos fundos de investimentos. ¿Embora não fosse tão lucrativa, a poupança me dava segurança¿, justificou.

Já Angelina Souza faz da poupança seu cofre de urgência. ¿Uso mais para ter uma segurança no momento de aperto¿, disse a investidora, que aplica na caderneta há nove anos. ¿Já pensei em comprar ações, mas fiquei com medo dessa história de queda na bolsa (de valores). E pensei: é melhor eu deixar meu dinheiro lá bem quietinho¿, acrescentou.

Até o momento os poupadores não parecem preocupados com a intenção do governo de taxar os ganhos da caderneta acima de R$ 50 mil a partir de janeiro de 2010. O Ministério da Fazenda parece que esqueceu o assunto. Ninguém no governo fala mais sobre isso. Muitos têm em mente que essa é uma medida impopular em períodos eleitorais.

Colaborou Daniel Gonçalves, especial para o Correio

Palavra de especialista Aplicação imbatível

¿A rentabilidade da poupança, hoje, é quase imbatível. A aplicação é corrigida pela taxa referencial de juros (TR) e tem, por lei, mais 0,5% todo mês. E com a Selic como essa, em 8,75% ao ano, somente um fundo com taxa de administração de 0,5% poderia empatar com a poupança. E ainda tem a parcela do Imposto de Renda. Na poupança, o investidor está isento. E por isso que qualquer fundo que cobrar taxa de administração de 1% ou mais ao ano vai perder para a poupança. A conta é simples, quem investe em fundos com essa taxa acima de 0,5% está perdendo. Eu diria hoje que, para o pequeno e médio investidor, é melhor apostar na poupança.¿

Ricardo Rocha, economista do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper)