Título: Mubarak e os filhos serão julgados no Egito
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Fonte: O Globo, 25/05/2011, O Mundo, p. 31

Ex-ditador é acusado pela morte de manifestantes; confrontos tribais matam ao menos 38 iemenitas em Sanaa

GAMAL E Alaa (à direita), filhos do ex-presidente: acusados de corrupção

HOSNI MUBARAK: se for condenado, o ex-chefe de Estado egípcio pode ser sentenciado à morte

CAIRO, SANAA e TRÍPOLI. Em meio a um conturbado processo de transição política pouco mais de cem dias após a queda do ditador Hosni Mubarak, o promotor-geral do Egito, Mahmoud Abdel-Meguid, anunciou que vai processar o ex-presidente pelas mortes de manifestantes durante os 18 dias de levante popular que levaram ao fim do regime. Esta será a primeira vez que um ex-chefe de Estado será levado a julgamento apenas pelo seu próprio povo no mundo árabe em tempos modernos ¿ o iraquiano Saddam Hussein foi julgado e executado após a invasão americana em 2003. Se for condenado, Mubarak poderá ser sentenciado à morte.

A notícia antecede um protesto previsto para sexta-feira na Praça Tahrir contra a demora na implementação de mudanças pelos dirigentes militares que assumiram o governo após a saída de Mubarak. Existiam relatos, prontamente negados, de que os militares poderiam conceder anistia ao ex-presidente. Em um país abalado por problemas econômicos e tensões religiosas, a prestação de contas do ex-ditador se tornou uma questão crucial para a população como um indício de mudanças reais na política egípcia. Durante o levante, o confronto entre manifestantes e forças de repressão deixou um total de 846 mortos.

Em nota, o promotor explicou que as acusações não se restringem ao assassinato de manifestantes. Mubarak e seus dois filhos, Gamal e Alaa, também serão indiciados por corrupção e abuso de poder para acumular riqueza. Abdel-Meguid planeja ainda processar Hussain Salem. Amigo do ex-ditador, ele tinha participação numa empresa envolvida num acordo do governo para vender gás natural a Israel e que está sob investigação. A mulher de Mubarak, Suzanne, foi libertada depois de entregar bens no valor de US$4 milhões. Não está claro se ela também poderá ser julgada.

¿ Esse (processo) é para os milhões que sofreram sob (o regime de) Mubarak ¿ disse Zuhra Said, irmã de Khaled Said, que foi vítima de tortura nas mãos de agentes da polícia. ¿ Isso é o mínimo que precisa ser feito.

O documento de acusação contra Mubarak diz que ele conspirou com o então chefe de segurança e com os principais funcionários do governo ¿ já em julgamento em corte criminal ¿ para cometer assassinato premeditado, além de tentativas de assassinato contra os participantes de protestos pacíficos.

Violência aumenta no Iêmen após fracasso de acordo

A principal dificuldade no julgamento é driblar as restrições de saúde do ex-ditador. Ele está internado num hospital em Sharm el-Sheik desde o mês passado. As tentativas da promotoria de levá-lo a um hospital militar fracassaram.

Se no Egito os indícios são de avanço na prestação de contas de autoridades do governo deposto, no Iêmen, a nova recusa do presidente Ali Abdullah Saleh em assinar um acordo que previa a sua saída do governo dentro de 30 dias desencadeou dois dias de combates violentos na capital entre forças leais a Saleh e opositores tribais.

Médicos estimaram o total de mortos nos confrontos ontem em 38 pessoas. O segundo dia de batalhas começou pouco depois do meio-dia quando os esforços de mediação negociados na casa de Sadeq al-Ahmar, líder da confederação tribal mais poderosa do país, naufragaram. Quase mil combatentes tribais participaram dos protestos. A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, disse que o país estava ¿profundamente desapontado¿ com a recusa de Saleh em aceitar o acordo que lhe garantiria imunidade.

Enquanto as negociações no Iêmen não avançam, a diplomacia americana deu ontem mais um passo no apoio aos rebeldes de Benghazi, na Líbia. Jeffrey Feltman, secretário-assistente de Estado para assuntos do Oriente, disse que o presidente Barack Obama convidou o Conselho Nacional de Transição a abrir um escritório em Washington. Não há um reconhecimento oficial dos opositores de Muamar Kadafi porque eles dizem que só representarão a população até as eleições.