Título: O salto da Oi na Bolsa
Autor: Rosa, Bruno; Carneiro, Lucianne
Fonte: O Globo, 25/05/2011, Economia, p. 23
Reestruturação faz ação disparar 13%. Empresa quer voltar a ser estrela do mercado
As ações da Oi (ex-Telemar) dispararam ontem e subiram 13,2% na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), após o anúncio da reestruturação societária da empresa. Com a expectativa de simplificação e maior liquidez dos papéis, a notícia foi bem recebida pelo mercado. O objetivo da proposta é reduzir o número de ações da empresa negociadas no pregão: atualmente, são sete classes, das três companhias do grupo. Na reestruturação, haverá apenas duas - as preferenciais (PN, sem direito a voto) e ordinárias (ON, com voto) da Brasil Telecom. Em seguida, a BrT passará a ser chamada Oi S.A. Mas os acionistas minoritários da Brasil Telecom (BrT) prometem muita briga por causa das relações de troca dos papéis entre as empresas do grupo. Eles discordam dos parâmetros sugeridos pelo Grupo Oi.
Pela proposta, os papéis da operadora Telemar Norte Leste (Tmar) serão incorporados pela BrT. Em seguida, as ações da holding Tele Norte Leste Participações ou apenas Telemar (TNLP) também serão absorvidas pela BrT - que terão papéis ordinários e preferenciais. Com a simplificação acionária, a Telemar Participações (TmarPart), holding de capital fechado que controla o Grupo Oi, terá ao fim do processo 52% das ações ordinárias da Oi S.A., segundo Otávio Azevedo, diretor-presidente da AG Telecom e presidente do Grupo Andrade Gutierrez, uma das controladoras da companhia. De acordo com ele, a operação será feita para que a holding não perca o controle da tele:
- Se não chegar a 52%, a operação não sai. Mas estamos confiantes. Está bem organizado e correto. Equilibrado para todos. Com a operação, (o papel) voltará a ser uma das blue chips do mercado. Usamos a ação da BrT porque já é aberta em Nova York, e a Tmar não é. Isso simplifica o processo. Do ponto de vista regulatório, é a melhor opção.
Os controladores irão também distribuir (como bonificação) R$1,5 bilhão aos acionistas da BrT, antes do processo de incorporação das ações. Isso, explica uma fonte do setor, irá elevar a participação dos controladores na empresa, funcionando como uma espécie de recompra de ações. Todo o processo de simplificação levará 180 dias, quando deverão ocorrer as assembleias gerais das empresas. Em seguida, serão necessários mais 40 dias para que os papéis sejam negociados sob o nome Oi S.A.
Minoritário discorda de cálculos usados
O mercado reagiu positivamente ao anúncio. As ações preferenciais (PN, sem direito a voto) da holding Telemar (TNLP4) fecharam em alta de 13,26%. Durante o dia, chegaram a subir 15,6%. Também registraram ganhos de dois dígitos os papéis ordinários (ON, com direito a voto) da holding, com 11,72%. A ação mais líquida da operadora Telemar Norte Leste (TMAR5) valorizou 10,12%. Na Bolsa de Nova York, os ADRs (American Depositary Receipts) da holding avançaram 13,53%. Para a analista chefe da Spinelli Corretora, Kelly Trentin, a proposta parece viável para conseguir, enfim, tornar mais simples a estrutura dos papéis do grupo:
- A possibilidade de simplificação da estrutura societária é um benefício para o acionista. Foram várias tentativas de se fazer isso sem sucesso, mas parece que desta vez é uma fórmula mais simples, e tem grandes chances de conseguir ser concluída.
Segundo a analista Maria Tereza Azevedo, da Link Investimentos, os ganhos administrativos, o vislumbre de uma política de dividendos de longo prazo e maior liquidez e governança corporativa são os principais benefícios do processo. Em relatório, no entanto, ela apontou que ainda não é possível opinar de forma precisa sobre o impacto para os minoritários porque faltam detalhes de como se dará a incorporação das empresas pela BrT.
Segundo um acionista minoritário, que optou por não se identificar, o valor das ações da BrT foi prejudicado pelo processo de aquisição da Oi, há dois anos. Para ele, o valor da BrT sofreu impacto de uma série de provisões relativas a processos judiciais. Ele lembra também que a companhia é usada como veículo de empréstimo para a Telemar.
- Foram ações que jogaram o valor das ações da Brasil Telecom para baixo. Por isso, uma relação de troca baseada em valor de mercado não é boa para os minoritários. Com o fato relevante, os controladores anunciaram só a forma de como será feita. Porém, parece ser mais interessante que as apresentadas em anos anteriores. É o primeiro passo na direção correta - disse o minoritário.
Otávio Azevedo, da AG Telecom, frisou que as relações de troca serão estabelecidas por três comitês independentes, que irão negociar as melhores condições, preservando o interesse de todos.
- Os comitês independentes irão definir os valores de troca. Fizemos isso para o mercado entender que os comitês farão tudo respeitando as condições do mercado, preservando os interesses de todos. O objetivo é que o assunto seja resolvido de forma independente.
Paolo Dal Pino, ex-presidente da TIM Brasil e fundador da Heliconia, empresa de private equity, destaca que pela primeira vez a empresa terá uma política de dividendos:
- Ninguém esperava que a reestruturação fosse acontecer tão rápido.
Durante o dia, circularam no mercado informações de que o anúncio da reestruturação já era conhecido por alguns investidores. Mas, como os papéis têm volume irregular de negociação, é difícil identificar a eventual atuação de insiders. Procurada pelo GLOBO, a CVM informou apenas que está acompanhando a movimentação dos papéis da companhia.