Título: Recado aos emergentes
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Fonte: O Globo, 26/05/2011, O Mundo, p. 34
Em Londres, Obama diz que parceria EUA-Europa não será suplantada em importância
OBAMA É escoltado com pompa ao Westminster Hall, tornando-se o primeiro presidente americano a discursar no salão histórico
LONDRES
Westminster Hall, o histórico e milenar salão do Poder Legislativo da Inglaterra, foi o palco escolhido pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, para uma demonstração de força verbal na arena global. No terceiro dia de sua visita à Europa, Obama reafirmou a hegemonia de seu país e do continente e destacou que a aliança de ambos é indispensável à paz e à estabilidade. E foi além: mencionando o Brasil, fez questão de alfinetar os países emergentes, assegurando que o bloco dos aspirantes e recém-chegados ao primeiro escalão da cena internacional não vai suplantar a antiga hegemonia transatlântica.
¿ Países como China, Brasil e Índia estão crescendo, criando mercados e oportunidades para nossos povos. Virou moda questionar se essa ascensão vai acompanhar o declínio da influência americana e europeia pelo mundo. Segundo esse argumento, esses países representam o futuro e o tempo da nossa liderança é passado. O argumento é errado. O tempo para nossa liderança é agora ¿ afirmou o presidente, na presença do premier David Cameron e seus antecessores Tony Blair, Gordon Brown e John Major.
Embora tenha destacado a parceria EUA-Reino Unido por estar no Parlamento britânico, Obama fez um passeio por vários temas internacionais, abordados também na entrevista coletiva que dera antes ao lado de Cameron.
Sobre a Líbia, o presidente adotou um tom duro, avisando ao ditador Muamar Kadafi que a pressão militar da Otan não vai diminuir. Mas deixou claro que a fórmula da intervenção militar não será usada em todos os casos de luta pela democracia no Norte da África e no Oriente Médio.
¿ Vamos proceder com humildade e a consciência de que não podemos ditar resultados. A liberdade definitivamente deve ser conquistada pelas pessoas e não imposta de fora ¿ declarou, diante de uma plateia de mais de mil parlamentares e convidados.
Em total sintonia com Cameron
O discurso marcou a primeira vez que um presidente americano falou às duas casas parlamentares no histórico Westminster Hall. Desde a Segunda Guerra Mundial, apenas três dignitários foram agraciados com a honra ¿ Charles De Gaulle, Nelson Mandela e o Papa Bento XVI.
Após discordar veementemente do premier israelense, Benjamin Netanyahu, sobre a proposta de paz no Oriente Médio ¿ e de ver o líder conservador ovacionado entusiasticamente pelo Congresso americano ¿ Obama retomou, com bastante segurança, as linhas gerais de seu discurso sobre a região. Segundo o presidente, a paz entre israelenses e palestinos vai requerer ¿um compromisso emocionalmente doloroso¿ entre os dois lados. E condenou, ainda, o projeto palestino de buscar unilateralmente o reconhecimento de seu Estado na Assembleia Geral da ONU:
¿ Eu acredito bravamente que pegar o caminho da ONU em vez do caminho da mesa de negociações e das conversas com Israel é um erro. Não serve aos interesses palestinos.
No Oriente Médio, analistas e diplomatas especulam que, além de fortalecer suas parcerias econômicas às vésperas do encontro do G-8 ¿ que começa hoje em Deauville, na França ¿ Obama tenta também recrutar o apoio europeu à condenação ao plano palestino na ONU. Ontem, ele já ganhou o apoio de Cameron à sua proposta de paz baseada nas fronteiras pré-1967.
O presidente fez questão de refutar, mais uma vez, a ideia de guerra contra o Islã e endossou o combate ao terrorismo e à rede al-Qaeda, prometendo, ainda, estar disposto a ir em busca da paz no Afeganistão com a inclusão de ex-inimigos da al-Qaeda que depuserem as armas e respeitarem a Constituição.
Em contraste com as 29 salvas de palma de pé que Netanyahu recebeu no Congresso dos EUA na véspera, Obama teve uma acolhida mais tímida dos aliados britânicos: apenas uma, protocolar, ao fim do discurso.
Senado rejeita corte republicano na saúde
Votação foi vista como uma vitória para o Partido Democrata rumo à campanha de 2012
Fernando Eichenberg
WASHINGTON. O Partido Democrata obteve uma significativa vitória no Senado americano, no final da tarde de ontem, ao conseguir a rejeição do plano orçamentário republicano cujos cortes teriam implicações diretas no sistema Medicare ¿ parte importante da reforma da saúde implementada pelo governo Obama. Aprovado com a totalidade das vozes republicanas na Câmara, o projeto de orçamento foi reprovado por cinco parlamentares do partido no Senado, o que resultou numa rejeição por 57 votos a 40. Horas antes, os democratas haviam vencido uma eleição distrital no estado de Nova York, onde eleitores se manifestaram com veemência contra as modificações no orçamento da saúde sugeridas pelos republicanos.
A controversa proposta da oposição pretendia converter o Medicare, programa de saúde público que beneficia idosos, em um sistema de subsídios para a aquisição de seguros de saúde privados, eliminando o pagamento direto do governo aos médicos e hospitais.
Newt Gingrich: `Plano de engenharia ultraconservadora¿
Os republicanos pretendiam desferir um severo golpe numa das principais conquistas do governo Barack Obama, e desfigurar parte da reforma da saúde com o discurso de redução de gastos públicos. Mas em meio ao delicado clima pré-eleitoral, a impopular medida foi rejeitada por representantes do próprio campo republicano. Mesmo Newt Gingrich, um dos postulantes a desafiar Barack Obama no pleito presidencial de 2012, definiu a proposta como um plano radical de ¿engenharia ultraconservadora¿. Colegas seus de partido disseram que o projeto romperia o compromisso republicano com os doentes e idosos. Os cinco senadores republicanos que aderiram ao voto democrata foram: Scott Brown (Massachusetts), Susan Collins e Olympia Snowe (Maine), Lisa Murkowski (Alasca) e Rand Paul (Kentucky).
O senador Rand Paul, um dos expoentes do movimento ultraconservador Tea Party, alegou ter votado contra o partido por considerar os cortes insuficientes. Os demais senadores são tidos como pertencentes à ala moderada republicana.
Harry Reid, o líder da maioria democrata no Senado, comemorou:
¿ A promessa do Medicare é essa: se você trabalhar duro, os EUA vão se assegurar de sua proteção em sua aposentadoria. O orçamento republicano iria quebrar essa promessa. Faria a vida significativamente mais complicada e dolorosa para os idosos americanos. É simples e sério assim.
A votação dá novo alento à campanha de Obama, que até então tinha na reforma da saúde um dos principais alvos de ataques republicanos. Pesquisas revelam que, embora seriamente preocupados com a alta dívida pública, os eleitores se opõem com firmeza a cortes no Medicare e outros programas de saúde do governo.
Analistas apontam que os republicanos poderão ser obrigados a alterar sua estratégia política para terem chances de derrotar o governo no ano que vem, e abandonar sua obsessão em tentar derrubar a reforma da saúde de Obama, ou pelo menos mudar os argumentos.
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Virou moda questionar se essa ascensão (dos Brics) vai acompanhar o declínio da influência americana e europeia. Esse argumento é errado
Vamos proceder com humildade e a consciência de que não podemos ditar resultados
Acredito bravamente que pegar o caminho da ONU não serve aos interesses palestinos¿
Barack Obama, presidente dos EUA
O presidente Barack Obama fez menção a vários assuntos em seu discurso no Parlamento e na coletiva com Cameron.
AMEAÇA DOS EMERGENTES: O presidente garantiu que a posição dominante do eixo EUA-Europa não será ameaçada pela ascensão de emergentes como Brasil, China e Índia. Segundo ele, a aliança transatlântica ainda permanecerá relevante no cenário mundial.
PAZ ISRAEL-PALESTINOS: O presidente disse que a paz entre os dois povos vai requerer um ¿compromisso emocionalmente doloroso¿ de ambos e ressaltou que nunca haverá acordo se eles não voltarem à mesa de negociações.
LÍBIA: Obama advertiu que não haverá afrouxamento da pressão militar sobre Kadafi e seu regime.
REVOLTAS ÁRABES: Obama apoiou a luta dos povos árabes por democracia e reconheceu, implicitamente, que eles têm razão em acusar o Ocidente de hipocrisia por aliar-se a regimes repressivos com o interesse de garantir o suprimento de energia e lutar contra o terrorismo.
AFEGANISTÃO: O foco da ação será a transição para uma paz duradoura com a inclusão daqueles que largarem a al-Qaeda e depuserem as armas.