Título: Arquivamento a toque de caixa
Autor: Pariz, Tiago
Fonte: Correio Braziliense, 08/08/2009, Política, p. 5

CONGRESSO

Paulo Duque engaveta denúncias restantes contra o aliado Sarney. Oposição apela ao PT em tentativa de ressuscitar ao menos parte das representações

Com a decisão do presidente do Conselho de Ética do Senado, Paulo Duque (PMDB-RJ), de arquivar todos os processos contra o senador José Sarney (PMDB-AP), a oposição colocou sobre os ombros do PT a responsabilidade de enterrar ou não a crise no Senado. PSDB e DEM anunciaram que recorrerão de todos os 11 despachos favoráveis ao presidente do Senado e esperam que em pelo menos um ganhem apoio dos petistas para a abertura da investigação.

A próxima reunião do colegiado, marcada para quarta-feira da próxima semana, será dedicada à análise dos recursos. Cada denúncia e representação será votada de forma separada. ¿Acreditamos que o PT nos ajudará a abrir pelo menos uma investigação¿, afirmou o senador Demostenes Torres (DEM-GO). O líder petista no Senado, Aloizio Mercadante (SP), disse ser contra o arquivamento sumário de todas as representações ¿11 contra José Sarney e uma contra o líder do PMDB na Casa, Renan Calheiros (AL). Mercadante prometeu analisar o mérito dos pedidos de investigação.

A oposição e alguns senadores do PT são favoráveis a investigar pelo menos a responsabilidade do presidente do Senado nos atos secretos, sobretudo no caso da nomeação do namorado da neta dele. Ao arquivar as últimas representações contra Sarney, Duque alegou que os documentos produzidos pelos senadores Arthur Virgílio (PSDB-AM) e Cristovam Buarque (PDT-DF), além do PSol, são baseados em ¿recortes de jornal¿ e não se escoram em prova de irregularidade. Duque já havia engavetado outras quatro representações contra Sarney e uma contra Renan.

Suplente de suplente de senador, Paulo Duque foi colocado na presidência do Conselho de Ética pela tropa de choque do presidente do Senado exatamente para arquivar todos os processos. As representações arquivadas ontem tratam de temas como desvio de patrocínio da Petrobras pela Fundação Sarney e irregularidade na venda de uma fazenda no Distrito Federal. Apenas duas eram denúncias novas. Uma delas pedia investigação sobre se um assessor de Sarney usou seu prestígio para repassar informações de investigações a Fernando Sarney, conforme revelado pelo Correio. A segunda tratava do suposto ocultamento da Justiça Federal de uma mansão de R$ 4 milhões, em Brasília, de propriedade de Sarney.

Mercadante, o petista equilibrista

Na guerra de representações no Senado, o PT joga contra as ameaças de cassação de mandato. Parte do partido atua ao lado do PMDB para poupar o presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), de ter a vida devassada pelo Conselho de Ética. Outra parcela demonstra afinidade com determinadas preocupações da oposição. O líder da bancada Aloizio Mercadante (PT-SP) é um dos favoráveis ao arquivamento da representação do PMDB contra o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM). O tucano admitiu que pagou salário a um servidor de seu gabinete enquanto ele estudava na Espanha e disse que ressarce os R$ 210 mil aos cofres públicos em parcelas.

Mal menor

Para Mercadante, Virgílio cometeu irregularidade, mas ele não tem participação nos desmandos administrativos do Senado, uma referência à crise dos atos secretos, que escondeu nomeações, exonerações e pagamentos feitos na época em que a Diretoria-Geral era ocupada por Agaciel Maia. Muitas dessas decisões acabaram beneficiando apadrinhados de Sarney. Com o clima tenso e desgastado, o PSDB cogita entrar com uma representação contra o líder do PMDB Renan Calheiros (AL), por xingar, em plenário, o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE). A bancada se reúne na terça-feira para discutir os termos da representação.

O PT também promete fazer uma avaliação da crise. O senador Almeida Lima (PMDB-SE), um dos integrantes da tropa de choque de Sarney, disse ver todo esse clima de beligerância com normalidade. ¿É típico de um parlamento. Não tem nada demais¿, disse o sergipano. (TP).