Título: Na cadeia, mas por pouco tempo
Autor: Ribeiro, Marcelle
Fonte: O Globo, 26/05/2011, O País, p. 16

Pimenta Neves poderá pedir progressão de regime e ficar menos de dois anos preso

SÃO PAULO. O jornalista Antônio Pimenta Neves, que foi transferido ontem para o presídio Tremembé II, no interior de São Paulo, pode ficar preso em regime fechado por apenas um ano e 11 meses, apesar de ter sido condenado a 15 anos de prisão pela morte da ex-namorada Sandra Gomide. De acordo com o promotor Carlos Horta Filho, depois de cumprir um sexto da pena - 30 meses - em regime fechado, ele pode pedir transferência para o regime semiaberto.

Como Pimenta Neves já ficou preso por quase sete meses entre 2000 e 2001, restariam um ano e 11 meses para serem cumpridos em regime fechado. Depois disso, ele pode pedir progressão de regime, que vai depender do seu bom comportamento e de decisão judicial.

Pimenta Neves, de 74 anos, foi preso anteontem, por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). O crime aconteceu na cidade de Ibiúna, em 20 de agosto de 2000, e ele foi condenado em 2006, inicialmente a 19 anos e dois meses de prisão. Depois de recorrer, a pena foi reduzida para 15 anos.

Para ler na cela, livros sobre prisão e suicídio

O jornalista passou a noite de anteontem sozinho numa cela de cerca de cinco metros quadrados na carceragem do 2º Distrito Policial, no bairro do Bom Retiro, na capital, mas não dormiu. Segundo sua advogada, Maria José da Costa Ferreira, ele ficou horas andando de um lado para outro. Na manhã de ontem, a advogada levou um lanche para o cliente, que teria recusado a comida da delegacia.

De acordo com a polícia, Pimenta Neves não reclamou da cela, mas a advogada criticou as condições de higiene do local.

O jornalista teria levado para a cadeia três livros que abordam assuntos como prisão e suicídio, entre outros temas. Além de um livro de William Shakespeare, Pimenta Neves carregou consigo as obras "Vigiar e punir"do filósofo francês Michel Foucault, e "O Deus selvagem - Um estudo do suicídio", de A.Alvarez.

A transferência de Pimenta Neves aconteceu às 13h e, depois de passar por um rápido exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal, na Zona Oeste da capital, ele foi levado para Tremembé II. Na mesma penitenciária, estão outros condenados por casos que ganharam notoriedade, como Alexandre Nardoni e os irmãos Cristian e Daniel Cravinhos.

Segundo a Secretaria de Administração Penitenciária (Seap), Pimenta Neves passará de dez a 15 dias no Regime de Observação, e só poderá receber visitas de seus advogados. Nesse tipo de regime inicial, ao qual todos os presos têm de se submeter, a administração da cadeia observará o comportamento do jornalista e também dos demais presos em relação a ele. A Seap não esclareceu como é a cela na qual Pimenta Neves ficará recluso.

Hoje, sua advogada deve visitá-lo na cadeia. Ela disse que pode levar um médico para examinar o cliente. De acordo com Maria José, o jornalista sofre de diabetes, hipertensão e de problemas na próstata, mas não passou mal no período em que esteve no 2º DP.

Maria José disse que ainda não sabe se vai pedir à Vara de Execuções Penais para que Pimenta Neves cumpra a pena em casa.

- Primeiramente, eu preciso saber qual a condição de saúde dele depois de tudo isso, o quanto piorou ou não, para depois ele ser submetido a exames e nós verificarmos a possibilidade (de pedir a prisão domiciliar) ou não - disse a advogada, que afirmou que ainda estuda se vai fazer alguma outra solicitação à Justiça.

O promotor Carlos Horta Filho disse que Pimenta Neves não parece doente.

- O juiz pode nomear um perito para avaliar a enfermidade de Pimenta Neves. Eu não sou médico, mas não me parece que ele está enfermo, a ponto de não poder ficar num presídio - disse.

Anteontem, depois de ser preso, Pimenta Neves disse que estava preparado para cumprir a pena.