Título: Derrota expôs fragilidade da aliança
Autor: Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 26/05/2011, O País, p. 12

Racha dentro dos partidos aliados foi mais grave no PMDB e no PCdoB

BRASÍLIA. A votação do Código Florestal, anteontem, expôs a fragilidade da articulação política do governo na Câmara. No item mais polêmico - a emenda do PMDB negociada com ruralistas que abre brecha para anistia de quem desmatou até 2008 -, os peemedebistas boicotaram praticamente em bloco a orientação do governo. Dos 73 deputados do partido que votaram, só o deputado Camilo Cola (ES) seguiu a diretriz governista.

Já no PT, 79 votaram para rejeitar a emenda e apenas o deputado Taumaturgo Lima (AC) a favor.

Aprovação da emenda dividiu outros aliados

Entre os demais partidos da base, a aprovação da emenda peemedebista também dividiu aliados. O PCdoB trocou o governo pelo apoio ao relator Aldo Rebelo (PCdoB-SP): dos 13 votos apenas um não endossou a emenda do PMDB. O próprio Aldo apoiou a modificação ao texto que havia acordado com o governo. O PR se dividiu: dos 32 que votaram anteontem, 16 seguiram a orientação do governo.O PSB foi mais fiel e, dos 29 que votaram, 22 seguiram a orientação do líder governista.

A disputa acirrada entre deputados do PT e do PMDB, na sessão de votação do Código Florestal, é um risco para a boa convivência e convergência dos dois maiores partidos da base. O esforço de seus comandantes agora é evitar reflexos em outras votações. O futuro veto da presidente será negociado mais adiante e há até articulações para alterar a proposta ainda no Senado.

Muito criticado pelos petistas, o líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), avalia que houve, de lado a lado, erro na condução do processo como um todo. Alves afirma que, para o debate da envergadura do Código Florestal, deveria ter sido convocada uma reunião do conselho político.

No discurso feito em plenário anteontem, Henrique Alves, enfatizou que não trocou "qualquer palavra" com a presidente Dilma, nem mesmo por telefone:

- Não derrotamos o governo. Foi uma decisão a favor do Brasil. O PMDB sempre votará no que for o melhor para o país. Foi assim com o salário mínimo e com o Código Florestal. Mostra a seriedade do partido. Assim será nas demais.Teremos (com o governo) uma lua de mel duradoura.

O líder do PT, Paulo Teixeira (SP), disse que o momento exige conversas para rearrumar a relação entre governo e base:

- Tivemos ontem um cenário indesejado, com afrouxamento da base de governo e em tom acima do aceitável. Temos que preparar, de maneira conjunta, as votações. Não existe governo com núcleo fofo. Vamos olhar para frente, não para o retrovisor.

Vice-líder do PMDB e futuro líder do governo no Congresso, o deputado Mendes Ribeiro (RS) minimizou a crise:

- É crise de gênios. Gênios não discutem relação. Gênios se compreendem.

O presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), que também subestimou a crise, disse que a votação do código não era questão de base e governo, mas uma questão transversal.

- O PMDB está bem representado na Vice-Presidência, que se reúne sempre com a presidente Dilma..

COLABOROUCatarina Alencastro