Título: Recuo já na campanha
Autor: Éboli, Evandro; Góes, Bruno
Fonte: O Globo, 26/05/2011, O País, p. 11

Num dos momentos-chave do segundo turno das eleições presidenciais, em 15 de outubro do ano passado, a então candidata Dilma Rousseff jogava a toalha na luta por princípios que defendia até então: a legalização do aborto, a criminalização da homofobia e o direito dos gays ao casamento. Pressionada por grupos evangélicos, a presidenciável assinava uma carta, ¿Mensagem da Dilma¿, em que defendia a manutenção da legislação em vigor sobre o aborto¿que permite a intervenção da gravidez apenas em casos de estupro e risco de morte para a mãe. Além disso, abordava questões relacionadas aos homossexuais: ¿Não tomarei a iniciativa de propor alterações de pontos que tratem da legislação do aborto e de outros temas concernentes à família e à livre expressão de qualquer religião do país.¿

Antes da campanha eleitoral, porém, Dilma já tinha dado pelo menos duas declarações dizendo que o aborto era um direito da mulher e questão de saúde pública. A mudança do discurso de Dilma tinhauma razão clara: ela tinha virado alvo do que foi chamado pelos petistas de uma ¿central de boatos¿, que, principalmente pela internet ou por panfletos distribuídos em templos, a apontava como defensora do aborto. Na carta, Dilma também se refere ao Projeto de Lei da Câmara (PLC) 122, que pune atos de discriminação contra homossexuais. Ela se comprometia a só sancionar os artigos que ¿não violem aliberdade de crença, culto eexpressão e demais garantias constitucionais individuais existentes no Brasil¿.