Título: Conjunto expõe mazelas que resultaram na denúncia contra o ministro Pimentel
Autor: Herdy, Thiago
Fonte: O Globo, 26/05/2011, O País, p. 4

MP investiga se recursos para casas foram desviados por prefeitura

BELO HORIZONTE. Alvo de denúncias de superfaturamento e suspeita de desvio de recursos públicos para a campanha política do atual ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Fernando Pimentel, o Residencial Águas Claras, antigo Conjunto Habitacional Jatobá, em Belo Horizonte, sente o peso de uma construção que ficou pela metade: 822 das 1,5 mil casas previstas não foram erguidas. De 1999 para cá, áreas no entorno foram invadidas por sem-teto e favelas surgiram.

- Há sete anos queremos saber da prefeitura por que não fizeram todas as casas. Falaram que iam colocar as famílias em outros conjuntos, mas tem gente daquela época que está até hoje na fila da casa própria - conta o carteiro e locutor da rádio do Residencial Águas Claras, Walace Paixão Gonçalves.

O Ministério Público decidiu investigar o caso, e descobriu-se que a obra teria custado R$26,7 milhões, em vez dos R$12,7 milhões orçados em 1999. Os promotores denunciaram o ex-prefeito Pimentel na condição de "ordenador das despesas do município e signatário de ajustes ilícitos" para aumentar os repasses da obra. Na última semana, a Justiça aceitou a denúncia contra ele e nove réus por improbidade administrativa. Eles são acusados de dispensa indevida de licitação e desvio de recursos, suspeita de financiamento da campanha para prefeito com recursos públicos e superfaturamento, entre outros crimes.

De acordo com o MP, Pimentel e dirigentes responsáveis pelos contratos e obras teriam usado a Ação Social Arquidiocesana (ASA) para transferir os recursos à HAP Engenharia, contratada pela Igreja para realizar a obra e pertencente a um dos melhores amigos do ministro, o empresário Roberto de Senna.

Os acusados negam a triangulação e dizem que a entidade teria sido contratada por sua proximidade com os sem-casa. Segundo Walace, técnicos da ASA, que passou a se chamar Providência Nossa Senhora da Conceição, mantiveram trabalho social na região por três anos depois da inauguração do espaço.

Em nota, Pimentel classificou como "improcedentes" as denúncias do MP e informou acreditar que no fim do processo ficará demonstrada "a lisura da política implementada". Nos bastidores, o ministro atribuiu a ação a perseguições por parte do Ministério Público mineiro.