Título: Bricks com K
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Fonte: O Globo, 22/05/2011, Economia, p. 36

O grupo de países emergentes faz mais sentido se incluir a Coreia do Sul. O que a diferencia dos outros países se pode ver no gráfico abaixo: investimento em pesquisa. Brasil e China têm em comum a queda forte da pobreza. A crise climática tem efeitos na economia. Essas são algumas das avaliações feitas por Vinod Thomas, diretor-geral e vice-presidente do Banco Mundial.

Vinod passou pelo Brasil, fez palestra na PUC-Rio num encontro sobre o grupo de países emergentes conhecido por essa sigla, que fica mais completa se incluir um país que tem tido há décadas forte desenvolvimento baseado em busca de alta tecnologia e educação de primeira qualidade para toda a população. A Coreia do Sul tem invejáveis índices educacionais. Comparado com os outros do bloco - China, Índia, Rússia e Brasil - está em primeiro lugar em matrículas no ensino superior, pesquisadores atuando em P&D e gastos em P&D.

Para Vinod, os Bricks estão sustentando a economia mundial. "Em boa parte da América Latina e da Ásia, a produção voltou aos picos atingidos antes da crise, a expansão da economia está em curso. A demanda é robusta em muitas economias de mercado emergentes. A preocupação das autoridades é com o superaquecimento e não com a volta da recessão", avalia Vinod Thomas.

O interessante na análise do economista indiano, que morou no Brasil e fala português, é que ele conecta o que alguns economistas ainda tratam em compartimentos estanques: a questão climática, a crise de alimentos e a economia. Ele acha que o mundo vive uma crise tripla: econômica, de alimentos e na área climática. Os efeitos dos dois últimos ameaçam a recuperação econômica.

Nos últimos anos, conta, o mundo viu dois grandes picos de preços dos gêneros alimentícios. Eles afetam diretamente os mais pobres porque representam 50% dos gastos das famílias. O aumento da demanda por alimentos continuará por fatores como o que houve de bom na China. "Entre 1981 e 2005, a China reduziu a população pobre em 627 milhões de pessoas. Em 1990, 37% dos pobres estavam na China; em 2005, a proporção caiu para 15%." Um movimento importante aconteceu no Brasil, como sabemos, de redução do percentual de pobres e extremamente pobres. Mais gente comendo melhor na China, Brasil e Índia, entre outros, representa que a demanda permanecerá firme.

Por outro lado, Vinod Thomas registra que os desastres provocados por excesso de calor, inundações e outros eventos extremos vão continuar acontecendo. "O verão de 2003 na Europa, que provocou a morte de 70 mil pessoas, foi o mais quente em 500 anos. Em 2010 foi mais quente ainda. Um artigo da revista "Science" prevê que, se a mudança climática não for atenuada, verões como o de 2003 ocorrerão a cada 10 anos, e a partir de meados do século passarão a ocorrer a cada dois anos." Nos últimos anos o mundo viu inúmeros eventos como inundações no Rio, Paquistão e Austrália.

A crise de 2008 continua tendo choques secundários na economia, como se vê na Europa. A resposta a isso tem sido aumento da liquidez, que acaba elevando preços das commodities por ação dos fundos financeiros.

Mais demanda de alimentos e instabilidade maior de produção por causa de eventos extremos terão como resultado preços altos das commodities que o Brasil exporta. Na comparação com os outros, o Brasil se destaca, no segundo lugar, em terras cultiváveis - atrás da Rússia. A conclusão, que Vinod não faz, mas que poderia ser feita, é que estamos em vantagem e o melhor então é anistiar quem desmatou, permitir exploração de áreas de preservação permanente, e mudar leis para aumentar a produção de alimentos; fazer todas as vontades do agronegócio, aceitando, na terça-feira, o correntão dos ruralistas. Pode-se concluir isso se a pessoa tiver a visão estreita e não perceber que a mudança climática torna inevitáveis as análises mais complexas, que interligam as variáveis. Mais liberdade para desmatar agora fará os próprios produtores colherem mais desastres climáticos adiante. Este é o desafio da hora: a conciliação entre meio ambiente e produção, com a produção modernizando suas práticas.

Por outro lado, o estudo apresentado por Vinod Thomas na PUC mostra mais uma vez que o investimento em educação é a única forma de ser bem sucedido na era do conhecimento. A abissal distância com a Coreia deveria no mínimo nos ajudar a aumentar o investimento em pesquisa e desenvolvimento. Quando nada, deveria nos convencer a sair do desvio que entramos na educação, que faz o Ministério da Educação distribuir um livro ensinando os alunos a se conformar com os erros de português.