Título: Só em junho PF deve concluir inquérito do caso
Autor: Maltchik, Roberto
Fonte: O Globo, 22/05/2011, O País, p. 10

Única sanção contra Erenice até agora foi "censura ética"

BRASÍLIA. Nas rodas sociais, Erenice raramente é vista. De acordo com um antigo aliado, ela "se recupera do trauma" e "prefere a tranquilidade da discrição". Outro amigo da família diz que tem informações vagas, que chegam pelo irmão da ex-ministra José Euricélio Alves de Carvalho. Na última conversa, Euricélio limitou-se a dizer que a irmã "está bem".

Erenice continua às voltas com a investigação da Polícia Federal, em Brasília, que apura irregularidades nos negócios que o filho Israel pretendia fazer para faturar em cima do prestígio da mãe. Israel virou motivo de chacota: para os lobistas que estiveram em contato com o filho da ex-ministra - e mais tarde o denunciaram -, Israel tentou "vender o céu na terra", sem suspeitar que estava encaminhando a ruína da trajetória política da mãe, outrora considerada aplicada e competente.

Pivô do escândalo, Israel Guerra continua silente. Vive na mesma casa de tijolos à vista, em um condomínio de Brasília, e continua com o Golf preto da época da crise. Na casa, onde funcionava a Capital Assessoria e Consultoria, a diferença são duas câmeras de vigilância.

O GLOBO encontrou Israel em casa, às 13h da última quarta-feira. Pelo interfone, recusou o pedido de entrevista:

- Se você tiver interesse de saber alguma coisa, entre em contato com meu advogado.

O inquérito que investiga a denúncia de tráfico de influência - supostamente operado pelo filho Israel e pelo ex-assessor da Presidência Vinicius de Castro - já foi prorrogado por quatro vezes e deve ser concluído no final de junho.

Os agentes já registraram cerca de 60 depoimentos, mas ainda não concluíram o laudo dos discos rígidos dos computadores da Casa Civil, mais de meio ano após a devassa nos equipamentos. Só após concluir o laudo, a PF decidirá se Erenice e Israel voltarão a ser interrogados.

O inquérito da PF foi recheado, em março, com informações da Controladoria Geral da União, que encontrou irregularidades em negócios do governo com empresas ligadas à família da ex-ministra. Até agora, entretanto, a única sanção contra Erenice foi uma "censura ética", aplicada pela Comissão de Ética da Presidência da República, que concluiu que as práticas da ex-ministra não foram compatíveis com o que se espera de um servidor público.

Desde quarta-feira O GLOBO tentou contatar Erenice, por meio dos advogados. Ela não respondeu aos pedidos de entrevista. Mario de Oliveira Filho, seu advogado, diz que não há motivo para que ela seja ouvida novamente:

- Até agora, não apareceu fato que a comprometesse. Não tem nada contra ela.