Título: Espanha: renúncia de ministra favorece Zapatero
Autor: Guilayn, Priscila
Fonte: O Globo, 27/05/2011, O Mundo, p. 33

Na pasta da Defesa, Carme Chacón desiste de concorrer à liderança do Partido Socialista

A MINISTRA Carme Chacón com o Rei Juan Carlos: tristeza por desistência

MADRI. O Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) está tentando juntar seus cacos após a derrota nas urnas para o conservador Partido Popular, nas eleições municipais e regionais. Com a autoridade posta em dúvida e a credibilidade bastante afetada, o presidente do governo, José Luis Rodríguez Zapatero, parece ter recuperado, por enquanto, ao menos o controle de sua sucessão: a ministra da Defesa, Carme Chacón, renunciou à candidatura como possível líder do partido para as eleições gerais de março de 2012.

Chacón, visivelmente emocionada, afirmou diante dos jornalistas que decidiu ¿dar um passo atrás para que o partido possa dar um passo à frente¿. A ministra que, supostamente, enfrentaria o vice-presidente Alfredo Pérez Rubalcaba, justificou a desistência de concorrer às primárias com três argumentos: sua candidatura colocaria em risco a unidade e a imagem do partido, a autoridade de Zapatero e a estabilidade do governo.

¿ Ela só renunciou porque, certamente, Zapatero pediu. Ela sempre foi uma zapaterista incondicional. Está claro que Zapatero considera Rubalcaba um candidato mais forte ¿ opinou o cientista político Cesario Rodríguez Aguilera, da Universidade de Barcelona.

Mesmo assim a crise interna do partido parece longe de ser solucionada. As reivindicações de socialistas de peso são muitas e estão distantes de serem unânimes ou minimamente consensuais. O presidente do Partido Socialista no País Basco, Jesús Eguiguren, por exemplo, aposta em obrigar Zapatero a rever a decisão de não se candidatar pela terceira vez à reeleição. Já o presidente do governo basco, Patxi López, insiste na convocação de um congresso do partido para renovar a cúpula e escolher um líder que conte com todo o respaldo.

¿ Convocar um congresso extraordinário às pressas seria suicídio para o partido. Não se trata de trocar as caras dos dirigentes. É preciso rever tudo: modelo, organização, dirigentes, programa e estratégia ¿ lembra Rodríguez Aguilera.

Convocação de primárias pode ser decidida amanhã

A decisão sobre um congresso ou a convocação de primárias será tomada num comitê federal marcado para amanhã.

¿ Eleições internas com um só candidato são um pouco ridículas. As primárias com um candidato visam a reforçá-lo, mas se a participação dos militantes é muito baixa, acaba acontecendo o contrário. Há um enfraquecimento da candidatura. Não acredito que haverá primárias com Rubalcaba ¿ argumenta Oriol Bartolomeus, da Universidade Autônoma de Barcelona.

Segundo analistas, acelerar a realização do congresso, que ocorre normalmente após as eleições legislativas, criaria uma situação perigosa: Zapatero perderia o posto de secretário-geral do PSOE, mas continuaria como chefe de governo ¿ o que poderia culminar na convocação de eleições antecipadas. O conservador Partido Popular, depois da surra eleitoral nos socialistas, aumentou a pressão para que Zapatero adiante as legislativas para outubro.

¿ Embora fazer previsões em política seja muito arriscado, vejo Zapatero completamente acabado, sem chances de ressurreição política ¿ arrisca o cientista político José Manuel Mata, da Universidade do País Basco. ¿ Nem mesmo se até março o ETA decidir entregar as armas.