Título: Especialistas condenam interferência religiosa
Autor: Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 27/05/2011, O País, p. 10

Para o grupo, governo virou refém de parlamentares evangélicos e católicos

SÃO PAULO. A presidente da Comissão de Estudos sobre Diversidade Sexual e Combate à Homofobia da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Adriana Galvão Moura Abílio, disse ontem que é preciso que o governo federal não deixe que uma pressão política, vinda da bancada dos religiosos, seja maior que o objetivo do kit contra a homofobia que seria distribuídos para escolas públicas.

- Nos preocupa muito o fato de uma medida dessa retirar o material de circulação. Não se pode perder o objetivo principal da cartilha: coibir o preconceito. A sociedade não pode esquecer de cobrar o espaço para este debate contra a homofobia - diz.

Na avaliação da cientista política Maria do Socorro Souza Braga, da Universidade Federal de São Carlos, o governo da presidente Dilma Rousseff (PT) ficou refém do grupo de parlamentares evangélicos porque vive uma situação conflitante diante da crise envolvendo o ministro Antonio Palocci (Casa Civil).

- A situação do ministro Palocci deixou fragilizado o governo por não dar respostas às bancadas que já estavam insatisfeitas. Então, o governo não consegue juntar forças para responder a esta bancada específica, a evangélica. Era de se esperar mesmo este tipo de relação em relação ao kit anti-homofobia - afirma a cientista política.

O governo ficou mais fragilizado e acabou cedendo às pressões dos evangélicos, segundo ela.

- É uma pena que isso tenha acontecido, porque este governo vinha bem - avalia Maria do Socorro.

A cientista política lembra que o tema de conscientização não pode ser deixado de lado, principalmente num fase em que agressões a homossexuais têm se tornado comuns, e lembra os casos recentes na Avenida Paulista.