Título: Inflação em queda pode derrubar juros
Autor: Verdini, Liana
Fonte: Correio Braziliense, 08/08/2009, Economia, p. 16

Para os analistas, há espaço suficiente na economia para uma redução das taxas. Eles acreditam que o Banco Central manterá um comportamento conservador e crédito mais caro

Comer fora de casa pesa cada vez mais no bolso dos trabalhadores. Em julho, os gastos subiram 0,58%

A inflação oficial brasileira fechou o mês passado em 0,24%, abaixo dos 0,36% registrados em junho e inferior até mesmo às estimativas do mercado, de 0,31% de acordo com o último Boletim Focus divulgado pelo Banco Central no início desta semana. É a primeira vez desde 2007 que o IPCA acumulado em 12 meses atinge o centro da meta fixada pelo Conselho Monetário Nacional dois anos antes. Para 2009, o objetivo do governo é uma inflação de 4,5%. De janeiro a julho, este índice já acumula alta de 2,81%. Com essa queda inesperada, os especialistas reforçam suas crenças de que há espaço para novas baixas da taxa básica de juros (Selic).

¿O Brasil merece ter um nível de juros compatível com a própria evolução de sua economia¿, afirma Edson Menezes, diretor do Banco Prosper. ¿E a tendência da inflação é continuar muito baixa, o que não justifica a manutenção da taxa de juro no patamar em que está¿.

Há quem aposte em um custo de vida bem mais baixo para o próximo ano. É o caso da SLW Asset Management. O economista-chefe Carlos Thadeu Filho calcula que a inflação em 2010 ficará em 3,4%. ¿Vários fatores contribuem para este número: o câmbio, os preços administrados, a atividade econômica.¿ Mas o mercado, de uma forma geral, ainda aposta em um IPCA de 4,35%.

¿Sem dúvida, houve uma surpresa com o resultado do IPCA de julho¿, diz Elson Teles, economista-chefe da Concórdia Corretora. ¿O mercado estava apostando em um desempenho favorável dos alimentos, mas ainda registrando alta. E veio em queda, contribuindo para que a inflação atingisse o centro da meta já neste mês¿. Para ele, a inflação deverá manter esse patamar e, embora havendo espaço para queda dos juros, o BC deverá adotar um comportamento conservador.

Alimento barato

Enquanto a maior parte dos países em todo o mundo trabalha com juro zero como forma de estimular a retomada da economia, no Brasil, o nível do juro real (descontando a inflação) varia entre 4,5% e 5%. ¿É caro tomar dinheiro no Brasil¿, admite o diretor do Banco Prosper. E pode ainda ficar mais caro, se a inflação voltar a baixar e o Comitê de Política Monetária Banco Central (Copom) em sua próxima reunião, no início de setembro, resolver de fato manter a taxa no atual patamar.

¿Não fazemos projeção, mas aparentemente, o item alimentação se mantém estável em agosto¿, avalia Irene Machado, pesquisadora da Coordenação de Índices de Preços do IBGE.

O desempenho do IPCA de julho reflete a queda de alguns preços de itens de consumo, especialmente de alimentos, que baixou de 0,7% em junho para -0,06% no mês passado. Segundo a pesquisadora, o leite pasteurizado, que vinha pressionando intensamente o índice (12,1% em junho), em julho subiu 4,02%. Já a refeição fora de casa, que tem um peso significativo no item alimentos, subiu apenas 0,58% no mês passado.

CONDOMÍNIO EM ALTA NO DF Os custos com condomínio e transportes pressionam a inflação de Brasília para cima. De acordo com os dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) na capital federal subiu de 0,12% em junho para 0,17% no mês passado. Puxando a carestia estão os setores de habitação, transporte e despesas pessoais. A pesquisadora Irene Machado, da Coordenação de Índices de Preços, explica que o IBGE verificou reajustes de 1,06% nos condomínios, de 1,15% em táxis e 13,38% em ônibus interestaduais. ¿Em despesas pessoais, houve aumento de 0,41% nos serviços como um todo, como cabeleireiro, manicure, serviço bancário, empregado doméstico¿, diz ela. (LV)

Sem dúvida, houve uma surpresa com o resultado do IPCA de julho¿

Elson Teles, economista-chefe da Concórdia Corretora

Construir fica mais caro Marcelo Ferreira/CB/D.A Press - 3/7/09 Apesar da inflação em baixa, gastos com construção disparam

O custo da construção civil está em alta no Brasil. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Índice Nacional da Construção Civil (Sinapi) de julho foi de 0,48%, acima dos 0,35% de junho. Mas em relação a 2008, houve queda significativa. Em julho do ano passado, o Sinapi havia sido de 1,03%. Neste ano, esse indicador acumula valorização de 4,17% e em 12 meses a alta é de 9,43%.

A variação dos preços dos materiais é que tem produzido maior impacto no índice. O IBGE calculou um aumento de 0,35% neste item ¿ em junho, os materiais haviam subido 0,14% ¿, ao passo que os gastos com a mão de obra apresentaram elevação de 0,65%, mesmo nível registrado em junho. Dessa forma, o custo nacional da construção por metro quadrado, que no mês de junho foi de R$ 701,62, passou para R$ 704,97 no mês passado. Desse total, R$ 405,99 se referem a materiais e R$ 298,98 a mão de obra.

No Distrito Federal, o índice da construção civil foi de 0,23% em julho, muito próximo ao de Goiás (0,24%) e muito acima do registrado na Região Centro-Oeste (0,17%). De janeiro a julho, o custo da construção acumula 3,83% de elevação no Distrito Federal, 3,15% em Goiás e 4,19% na região Centro-Oeste. (LV)

O número 9,43% Alta de preços de matérias-primas e insumos usados nas edificações em 12 meses