Título: Volta de Zelaya reaproxima Honduras de OEA
Autor:
Fonte: O Globo, 29/05/2011, O Mundo, p. 46

Acordo mediado por Colômbia e Venezuela garante retorno de ex-presidente, expulso do país há quase dois anos

ZELAYA ACENA para simpatizantes no desembarque em Tegucigalpa

TEGUCIGALPA. Cerca de vinte mil pessoas acampadas desde sexta-feira nas proximidades do Aeroporto Internacional de Toncontín, na capital hondurenha de Tegucigalpa, receberam ontem o ex-presidente Manuel Zelaya, que retornou ao país quase dois anos após ter sido removido do poder em Honduras. A volta do controverso político coloca um ponto final na crise que se instaurou em Honduras depois que Zelaya foi deposto em 2009, e abre caminho para a volta do país à Organização dos Estados Americanos (OEA).

Após cumprimentar simpatizantes, Zelaya afirmou que por enquanto não pensa numa nova candidatura à Presidência, mas disse que ainda apoia a formação de uma Assembleia Constituinte.

¿ Vim buscar saídas para os problemas do país. E a Constituinte é uma saída democrática que temos.

A chegada de Zelaya estava prevista para o fim da manhã, mas o ex-presidente só chegou ao país às 15h (horário local), acompanhado pela esposa, duas filhas e uma comitiva internacional, formada por colaboradores e autoridades políticas, como os chanceleres venezuelano, Nicolás Maduro, e boliviano, David Choquehuanca. Na sexta-feira, Zelaya deixou a Costa Rica, onde vivia desde a expulsão de Honduras, para se reunir com o presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, em Manágua e preparar o seu retorno a Tegucigalpa.

¿ Minha volta é resultado de um esforço de todos os países da América Latina. É uma vitória dos processos democráticos ¿ comemorou em entrevista à Telesur, antes do embarque.

Apesar da festa em sua chegada, o político continua dividindo opiniões. Irma Acosta, ex-deputada do partido governista, criticou o retorno do ex-presidente e disse que Zelaya deveria ¿dedicar-se a cantar, tocar sua guitarra e esquecer a política, porque seu tempo já passou¿.

Acordo permite participação de partidários em eleição

Logo após sua chegada, Zelaya se reuniu com o atual presidente, Porfirio Lobo, e o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos, José Miguel Insulza. Junto com Colômbia e Venezuela, a OEA supervisionou o acordo para a volta do líder, que foi assinado domingo passado na cidade colombiana de Cartagena.

Além de garantir o fim da perseguição do líder e de seus partidários, o Acordo de Cartagena permite que os simpatizantes de Zelaya participem das eleições de 2014 como um partido político e reforça o comprometimento do governo de Honduras com os direitos humanos.

O retorno do hondurenho ao país natal foi comemorado por líderes latino-americanos, como Evo Morales e Rafael Correa. O presidente equatoriano, porém, reiterou que não apoiará ¿a reintegração de Honduras à OEA, até que os responsáveis pelo golpe de 2009 sejam punidos¿.

Zelaya foi deposto em junho de 2009, acusado de forçar um plebiscito sobre a formação de uma Assembleia Constituinte com a intenção de se candidatar à reeleição, proibida no país. O líder foi levado à força para a Costa Rica, mas reapareceu na embaixada brasileira em Tegucigalpa, onde ficou abrigado por alguns meses antes de voltar para o exílio.