Título: Paris versão 2013
Autor: Berlinck, Deborah
Fonte: O Globo, 29/05/2011, O Mundo, p. 44

Rotina na capital francesa promete mudar após revitalização das margens do Rio Sena

EM FRENTE ao tradicional Museu d¿ Orsay, uma escadaria servirá de arquibancada para parisienses e visitantes: espetáculos de música, teatro e dança vão oferecer entretenimento num palco flutuante no Sena

ÁREA AO redor da Ponte de L¿Alma, em Rive Gauche: ideia da Prefeitura de Paris é reduzir a poluição e aumentar a área verde

INVALIDES-CONCORDE: sem carros e com ilhotas artificiais; acima, os arredores da Ponte Alexandre III: 70% dos parisienses apoiam o projeto

Amantes de Paris, preparem-se. A capital francesa vai se submeter a um verdadeiro lifting ao longo do Rio Sena ¿ cartão-postal inevitável da cidade. E a primeira boa surpresa é, sobretudo, para os parisienses que não dirigem: o fim da circulação de carros em alguns trechos ao longo do rio. Cinco hectares às margens do Sena, em pleno centro, vão ser refeitos para abrigar eventos culturais e esportivos.

Exemplo: na frente do Museu d¿Orsay, uma enorme escadaria ¿ como se fosse uma arquibancada ¿- vai descer até a beira do rio. Sentados nos degraus, parisienses e turistas poderão assistir a espetáculos em um palco flutuante. A escadaria vai passar por cima do que hoje é uma via expressa que será transformada em um boulevard para pedestres, ciclistas e patinadores.

Ideia agrada a 70% dos parisienses

O projeto foi detalhado ao GLOBO por Anne Hidalgo, prefeita-adjunta de Paris e hoje a candidata da esquerda mais cotada para assumir o comando da cidade em 2014, quando o atual prefeito, Bertrand Delanoë, termina seu mandato. Hidalgo desembarca no Brasil nesta semana para participar, em São Paulo, do Rede C40, o encontro de prefeitos das 40 maiores metrópoles do planeta, que começa na terça-feira. E vai falar no encontro sobre esse projeto. As obras no entorno do Rio Sena, estimadas em 38 milhões, começam em 2012 e vão durar um ano. O entusiasmo é grande:

¿ Começamos a trabalhar nisso há um ano, partindo da ideia do prefeito Delanoë de reconquistar a cidade.

E o prefeito também não disfarça o entusiasmo pela renovação.

¿ Paris nasceu do Rio Sena, se construiu a partir dele e à sua volta. É a linha da vida da nossa capital ¿ diz Delanoë. ¿ Repensar a ligação (da população) com o Rio Sena é imaginar a metrópole de amanhã.

Ao longo da margem direita do Rio Sena, chamada de Rive Droite, passa hoje uma rua movimentada de carros. Impossível bloquear completamente a circulação ¿ o que seria uma catástrofe, segundo Hidalgo. Mas, uma coisa é certa: a via expressa para carros vai acabar.

¿ Vamos transformar esta rua num grande boulevard urbano. Vamos instalar alguns sinais de trânsito para reduzir a aceleração dos carros, aumentar a calçada, colocar cafés ¿ explica a prefeita-adjunta.

Em certos pontos da margem direita, a prefeitura vai colocar espécies de grandes embarcações para eventos esportivos ou cafés. A idéia é fazer com que as pessoas desçam até a beira do Sena, recuperando o elo dos parisienses com o rio, como no passado. O projeto será ajustável para criar no inverno, por exemplo, um rinque de patinação na beira do rio.

Já a Rive Gauche ¿ isto é, na margem esquerda do rio ¿ a transformação vai ser mais radical. Ao longo de 2,5 quilômetros, a ideia é bloquear mesmo toda a rua para carros perto da água. Entre Invalides e Concorde será construído um arquipélago de ¿jardins flutuantes¿ para permitir que os parisienses tenham mais contato com a água. Ilhotas artificiais poderão ser exploradas para todo tipo de atividade, incluindo esporte. Debaixo da Ponte Alexandre III, a rua será fechada para a circulação dos carros. Haverá espaço até para uma discoteca e também um porto para barcos tipo ¿Batobus¿.

Em Ponte de l¿Alma, a rua para carros também será fechada e transformada em um espaço urbano com muitos jardins. Parisienses consultados sobre o projeto querem, por exemplo, a volta de mercados ao longo do Rio Sena, como no passado ¿ outra ideia que, segundo Hidalgo, será adotada.

As sondagens mostram que 70% dos parisienses são favoráveis às mudanças ao longo do Rio Sena. Até porque 58% dos parisienses não têm carro. O projeto já foi votado pelo Conselho Municipal de Paris e agora está na fase de apresentação dos aspectos técnicos para a população. Hidalgo explica que uma das motivações foi ambiental: Paris quer reduzir a poluição e isso começa com a diminuição dos automóveis em circulação. O objetivo, portanto, também é de saúde publica ¿ já que há muitas crianças e idosos com problemas respiratórios por conta da poluição.

¿ Outro objetivo, claro, é o embelezamento da cidade. Não é normal que um lugar classificado como patrimônio mundial (as margens do Rio Sena) seja uma via expressa de carros! É inconcebível. Qualidade de vida é um elemento importante.