Título: Dilma procura Temer para acalmar os ânimos
Autor: Fernandes, Diana
Fonte: O Globo, 29/05/2011, O País, p. 14

Presidente telefona para vice em busca de reaproximação e diz que a partir de agora vai prevalecer o diálogo

A PRESIDENTE convidou Temer para ir à Base Aérea amanhã, quando ela viaja ao Uruguai

O VICE-PRESIDENTE disse que conversa com Palocci foi dura, mas ¿não agressiva¿

BRASÍLIA. A presidente Dilma Rousseff tomou a iniciativa de telefonar na manhã de ontem para o vice-presidente, Michel Temer, para tentar desfazer qualquer mal-entendido da briga entre o PT e o PMDB em torno da votação do Código Florestal, terça-feira, quando o governo foi derrotado. O clima de tensão chegou a um nível tão alto que nos últimos dias ficou estremecida a relação entre Dilma e seu vice, que evitou se encontrar com a presidente, como mostrou ontem O GLOBO, na coluna Nhenhenhém, de Jorge Bastos Moreno. No telefonema de ontem, Dilma disse a Temer que o governo e o PT não têm problemas com o PMDB, e que ela e Temer fazem parte de projeto conjunto que deve ser levado adiante. Marcaram uma conversa mais longa para terça-feira.

Mas eles vão se encontrar já amanhã. Dilma convidou o vice para ir à Base Aérea na manhã desta segunda-feira, quando ela embarcará para viagem de Estado ao Uruguai. Será oportunidade para posarem para fotos e terem o primeiro contato direto desde a semana passada, quando Temer teria se negado a ir conversar com a presidente depois das ameaças ao PMDB transmitidas pelo ministro da Casa Civil, Antonio Palocci.

Palocci teria dito a Temer, numa ríspida conversa, pouco horas antes da votação do Código Florestal, na terça-feira, que se o PMDB votasse a favor da emenda de anistia aos desmatadores, os ministros do partido seriam demitidos. O vice não gostou e, em resposta, teria fugido ao seu estilo habitual de cordialidade. Segundo fontes do Palácio do Planalto, Dilma não ameaçou demitir ministros, mas cobrou: ¿Vocês vão ter que mostrar se são governo ou não!¿.

No telefonema de ontem a Temer, a presidente, no seu jeito peculiar de se desculpar por eventuais excessos, disse que aquilo que aconteceu no início da semana é passado, falou da importância da unidade de governo e repetiu várias vezes que PT e PMDB têm um projeto em comum importante para o país.

Dilma também fez questão de prestigiar Temer, sugerindo que ele faça o encontro de amanhã com a bancada do PMDB no Senado na condição de presidente da República em exercício ¿ enquanto ela estiver no Uruguai ¿ e não como vice. E comentou ainda sobre o almoço que ela própria terá com os senadores do PMDB, na quarta-feira, sinalizando que a partir de agora tudo será diferente: garantiu que a discussão do Código Florestal no Senado se dará de forma mais profunda, coordenada, e que vai prevalecer o diálogo.

Temer minimiza desgaste: `Está tudo tranquilo agora¿

Temer, por meio de seus assessores, sustentou ontem que está tudo bem na sua relação com a presidente Dilma e refutou a versão de que tenha se negado a encontrar com ela após as ameaças reproduzidas por Palocci. Ele teria apenas sugerido que deixassem essa conversa para outra oportunidade. O vice admite que a situação realmente esteve tensa no início da semana, mas que PT e PMDB, e ele e Dilma, já se entenderam:

¿ Está tudo tranquilo agora.

O vice também minimiza o ríspido diálogo com Palocci e nega que tenha usados palavras chulas. Segundo versões disseminadas pelos próprios peemedebistas, quando ouviu de Palocci que o primeiro ministro que perderia o cargo seria seu apadrinhado na Agricultura, Wagner Rossi, Temer teria dito: ¿Você acha que vou brigar por um ministério de merda?!¿

Ontem, com Dilma entrando pessoalmente em campo para evitar o pior com seu principal partido aliado, as versões tanto do lado de Temer quanto do de Palocci eram que a conversa da noite de terça-feira foi realmente muito dura, ¿mas não foi deselegante, nem agressiva¿. Isso não combina com o estilo do vice-presidente, disseram em coro os assessores dele e de Palocci.

Reeleito ontem presidente nacional do PSDB, o deputado Sérgio Guerra, comentou as desavenças entre Dilma e seu vice:

¿ Dilma é autoritária, não tem liderança política e tem capacidade gerencial limitada. O que dissemos na campanha confirma-se agora. Ela precisou de Lula antes do tempo. Toda vez que sua campanha ia mal, ganhava uma injeção de Lula.

Sobre a possibilidade de racha entre PT e PMDB:

¿ Acredito no racha, mas não agora.