Título: Aécio vence queda de braço dentro do PSDB
Autor: Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 29/05/2011, O País, p. 13

Senador mineiro ganha disputa com Serra por cargo na direção partidária. Ex-governador paulista assume Conselho

COM FERNANDO Henrique no meio, Aécio Neves confraterniza com o deputado Sérgio Guerra, que foi reeleito ontem presidente do PSDB; José Serra aceitou Conselho Político

Adriana Vasconcelos, Maria Lima, Catarina Alencastro e Vivian Oswald

BRASÍLIA. No primeiro embate direto e efetivo entre os dois postulantes à vaga de candidato do PSDB à Presidência em 2014, o senador Aécio Neves (MG) levou a melhor sobre o ex-governador paulista José Serra em postos-chaves na direção do partido. Após uma madrugada tensa, trocas de ameaças e muita conversa, Serra acabou convencido pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o governador Geraldo Alckmin (SP) a assumir a presidência do Conselho Político do partido ¿ criado ontem ¿, abrindo mão do comando do Instituto Teotônio Vilela (ITV), pelo qual tinha preferência. A vaga será ocupada pelo ex-senador Tasso Jereissati (CE), indicado pelo senador mineiro. Um esboço de unidade partidária, que não aconteceu de fato, foi apresentada no palco e nos discursos dos dirigentes tucanos numa convenção marcada pelo constrangimento.

O fim do impasse entre os grupos de Aécio e de Serra só ocorreu no fim da manhã de ontem, o que atrasou em mais de três horas a chegada das estrelas do partido à convenção nacional, que reelegeu o deputado Sérgio Guerra (PE) como presidente. Para aceitar a presidência do Conselho Político, Serra exigiu que a nova instância partidária tivesse poder deliberativo e autonomia financeira, operacional e de pessoal. Também não abriu mão de opinar sobre o estatuto do conselho, que terá entre suas atribuições decidir sobre processos de escolha de candidatos e política de alianças.

Em discursos, dirigentes pregam união do partido

Numa ação combinada, os principais líderes tucanos ressaltaram em seus discursos a importância da unidade do PSDB e se deixaram fotografar de mãos dadas. Mas as fisionomias de Serra, Aécio, Fernando Henrique e Sérgio Guerra não escondiam a tensão das últimas horas. Fernando Henrique voltou a ser a estrela tucana, recebendo elogios e homenagens.

¿ O presidente Fernando Henrique nunca olhou nada que não fosse o interesse do partido. É uma honra para o PSDB contar com sua solidariedade. Solidariedade, aliás, é o que o precisamos ¿ discursou Guerra.

Aécio, no palco, deixou de lado a intriga com Serra e também citou Fernando Henrique:

¿ O PSDB está unido, pronto para enfrentar desafios, para introduzir no governo federal a ousadia de Fernando Henrique. Que orgulho temos de nosso passado, de nossos companheiros! Temos um homem público de estatura moral e dignidade do governador José Serra ¿ disse, emendando um recado. ¿ O PSDB é um partido sem dono.

Serra também se referiu a Aécio, e rechaçou brigas internas:

¿ A intriga é a arma de nosso adversário, nos enfraquece. Mantenhamo-nos unidos, por cima das diferenças, que são normais em qualquer partido, mas não podem falar mais alto.

Parte do discurso do ex-governador paulista foi dedicada a críticas ao governo petista:

¿ Cada vez mais a ocupante da presidência governa menos, e o que não foi eleito (Lula) governa mais. Temos um governo omisso, que começa navegar nas águas da corrupção.

Muito aplaudido, Fernando Henrique foi o único que admitiu que o processo pré-convenção foi traumático:

¿ Brigamos muito sim, mas estamos aqui juntos para enfrentar um desafio maior, que não é a Presidência, mas as eleições municipais de 2012.

O constrangimento dos tucanos era evidente na convenção. Visivelmente desconfortável, Serra se isolou no palanque, enquanto Aécio trocava sorrisos e gracejos com FH e Guerra.

A encorpada caravana do governador Marconi Perillo, que desembarcou de ônibus trazidos de Goiás, puxou o coro de ¿Marconi presidente¿, mas a claque de ¿Aécio presidente¿ também era numerosa. Quando Serra chegou ao evento, os militantes não citaram seu nome, mas cantaram: ¿Um, dois, três, quatro cinco mil, queremos um tucano presidente do Brasil¿.