Título: Madeira financia outras atividades
Autor: Carvalho, Cleide
Fonte: O Globo, 29/05/2011, O País, p. 4

"O desmatamento está no DNA do estado", diz promotor

SINOP, MT. Pressionado pela opinião pública nacional e internacional e acuado pelo governo federal, Mato Grosso tenta sobrepor a importância de sua produção de alimentos às questões ambientais.

Ao firmar o acordo de redução do desflorestamento, o governador Silval Barbosa frisou que a maioria dos agricultores do estado trabalha dentro da lei e afirmou que o desmatamento foi pontual. Numa promessa que a ministra quer ver cumprida e divulgada para todo o país, a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Mato Grosso (Famato) prometeu desfiliar os desmatadores.

- Não podemos cometer injustiças com os que trabalham na legalidade. Podemos duplicar a produção sem tocar numa árvore - disse Barbosa à ministra.

A conta que se faz no estado é de que para cada hectare de agricultura outro já foi devastado e abandonado. Ocupar essas terras seria o caminho para aumentar a produção sem cortar mais árvores.

- O desmatamento está no DNA do estado - resume o promotor Domingos Sávio Barros Arruda.

Arruda diz que, em Mato Grosso, muitos enriqueceram da mesma forma: adquiriram ou tomaram posse de uma área de mata, derrubaram árvores, venderam a madeira, compraram gado ou plantaram.

- A madeira continua sendo o atrativo. O sujeito tira a madeira e vende. E é com o dinheiro da madeira que ele financia o início a outra atividade - explica o promotor.

Na opinião dele, mudar a visão sobre o ambiente é uma questão social.

- O poder político em Mato Grosso é originário do agronegócio e sempre geriu o estado sob a ótica dos interesses do setor, cujo objetivo é alcançar o perdão das dívidas ambientais e, se possível, diminuir reservas legais, áreas de preservação e terras indígenas - diz.

Para Arruda, a burocracia complica o cumprimento das leis, fazendo com que perdure a percepção de que é impossível trabalhar na legalidade, e todos acabam concordando que "ninguém é 100% certo".

- É como o escorpião, a gente vai confiando, mas ele sempre vai picar no final - diz ele.