Título: Oposição tentará criar CPI para investigar negócios de Palocci
Autor: Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 21/05/2011, O País, p. 4

BRASÍLIA. A oposição decidiu se unir para tentar furar a blindagem montada pelo governo para proteger o chefe da Casa Civil, ministro Antonio Palocci. Na segunda-feira, começará a colher assinaturas para a instalação de uma CPI Mista com o objetivo de investigar suposto tráfico de influência praticado pelo então deputado petista no período em que atuou como consultor. Em minoria tanto na Câmara como no Senado, PSDB, DEM, PPS e PSOL pretendem investir nos independentes e descontentes da base governista para garantir o apoio mínimo necessário à criação da CPI: 27 senadores e 171 deputados.

Os quatro partidos de oposição contam com 111 deputados e 19 senadores, incluindo os quase dez deputados e dois senadores que já anunciaram a saída do DEM.

No Senado, a tarefa pode ser mais fácil, pois lá a dissidência governista chega a pelo menos quatro senadores: Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), Pedro Simon (PMDB-RS), Ana Amélia (PP-RS) e Pedro Taques (PDT-MT), o que elevaria o número de assinaturas pela CPI para 23.

Sarney saiu a campo ontem contra CPI

Além disso, a oposição vai tentar conquistar a adesão dos independentes do PMDB, grupo formado pelos senadores Roberto Requião (SC), Luiz Henrique (SC), Cassildo Maldaner (SC), Ricardo Ferraço (ES) e Waldemir Moka (MS). Se eles aderirem, o número no Senado será alcançado. Mas o trator governista já está em ação. O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), saiu ontem mesmo a campo para tentar pôr água na fervura:

- Acho que não há motivo nenhum para nenhuma CPI, uma vez que até agora não vi, no debate, nenhum crime a ser levantado e nenhuma outra contravenção que se pudesse investigar.

Já na Câmara a situação é considerada mais complicada para conseguir a instalação de uma CPI, a não ser que a situação política de Palocci se torne insustentável. Na votação do requerimento de convocação de Palocci, quarta-feira, os governistas rejeitaram a iniciativa da oposição com facilidade no plenário da Câmara: 266 votos contrários e apenas 72 a favor, numa sessão meio esvaziada.

Oposição aposta em novos fatos para aumentar pressão

A aposta dos deputados oposicionistas é que fatos novos, como o revelado ontem pelo jornal "Folha de S.Paulo", de que a empresa de Palocci teria faturado R$20 milhões só no ano eleitoral, possam levar a opinião pública a pressionar o Congresso a agir.

- A pressão da opinião pública tende a crescer diante dos fatos novos, que reforçam o enriquecimento vertiginoso do ministro e as suspeitas de tráfico de influência - previu o líder do PSDB, deputado Duarte Nogueira (SP).

O líder do DEM no Senado, Demóstenes Torres (GO), reconhece que a oposição terá dificuldades para criar a CPI, mas promete continuar cobrando investigação da Procuradoria Geral da República:

- Vamos fazer barulho, é o que nos resta. E insistiremos para que o procurador-geral da República determine abertura de inquérito sobre as suspeitas de improbidade administrativa com as novas revelações.

Para o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ), mesmo que a CPI não saia, o Congresso não terá como fugir de discutir as relações entre o público e o privado. Ele defende a aprovação de emenda constitucional, apresentada por seu partido, que proíbe deputados e senadores de prestar consultoria durante o exercício de seus mandatos.

Com o Congresso vazio, poucos petistas saíram em defesa de Palocci. O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) foi um deles:

- Não sei a quem interessa esse tiroteio contra Palocci. Só sei que o ministro é hoje a garantia de um governo Dilma mais amplo e aberto ao diálogo.