Título: Bradesco, uma curiosa ausência
Autor: Nogueira, Danielle
Fonte: O Globo, 21/05/2011, Economia, p. 35

A transição de comando da Vale foi marcada por curiosas ausências em dois eventos ocorridos ontem no Rio, que evidenciam quão conflituoso foi o processo de substituição. Logo no início da manhã, Roger Agnelli recebeu na sede da empresa cerca de 30 pessoas para um café da manhã de despedida. Não havia na mesa representantes da Previ, acionista da companhia e cujo presidente, Ricardo Flores, responde também pela presidência do Conselho de Administração da mineradora. Flores sequer fora convidado.

Depois, na coletiva de imprensa para apresentação do novo presidente da Vale, Murilo Ferreira, foi a vez de representantes do Bradesco - maior acionista privado da empresa e que indicara Agnelli para o cargo há dez anos - não darem o ar da graça. Flores, que participou da coletiva, justificou a ausência de Mario Teixeira e Renato Gomes, que representam o banco no Conselho, dizendo que eles tinham compromisso em São Paulo, mas que havia "sintonia e afinamento" entre os acionistas. A versão do Bradesco foi outra. Segundo a instituição, embora eles tenham vindo ao Rio para o café da manhã com Agnelli, voltaram para a capital paulista porque na programação do cerimonial da Vale não estava prevista sua participação no evento com os jornalistas. Procurada, a Vale não fez comentários.

Lula telefonou do Panamá para prestigiar Agnelli

O único momento em que todos os conselheiros se encontraram foi na cerimônia de transmissão de cargo, na sede da Valer - braço de educação da Vale -, no Centro. O evento foi apenas para funcionários. Luciano Coutinho, que representa o BNDES no Conselho, também não compareceu a qualquer dos eventos, pois está no exterior. O único representante que participou do café da manhã, da solenidade de posse e da coletiva foi Oscar Camargo, da japonesa Mitsui, que detém 18,24% da Valepar, holding que controla a Vale.

O Bradesco tem 21,21% da Valepar. O governo, via BNDES e fundos de pensão patrocinados por estatais, tem 60,5% da holding. Como a nomeação do presidente tem de ter dois terços de aprovação dos sócios, o Bradesco era fundamental para a mudança de comando da Vale. Daí a forte pressão política sobre o banco. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, chegou a se reunir com representantes do banco para tratar da saída de Agnelli.

No café da manhã, que durou cerca de duas horas, Agnelli lembrou os principais projetos que tocou à frente da Vale e agradeceu aos ex-presidente da Previ Luiz Tarquínio Ferro e Sérgio Rosa, mas não mencionou Flores. Também citou Lula, com quem afirmou "compartilhar ideais". O ex-presidente não foi pois estava no Panamá, mas ligou para prestigiar o executivo. Agnelli voltou a dizer que "ama a Vale" e se emocionou várias vezes no encontro .