Título: Vale acena com parque siderúrgico
Autor: Nogueira, Danielle
Fonte: O Globo, 21/05/2011, Economia, p. 35

No seu primeiro dia como presidente da Vale, Murilo Ferreira acenou ontem com a necessidade de um parque siderúrgico forte com objetivo de ampliar o mercado interno para o minério de ferro, carro-chefe da companhia, agregando valor à empresa e à comunidade. Com um tom levemente acima do adotado por seu antecessor Roger Agnelli, quando abordava o assunto, Ferreira defendeu os projeto de siderurgia da companhia no país - são três em andamento e um em operação. Ele enfatizou ainda, em sua primeira entrevista coletiva no cargo, que terá "diálogo franco e aberto com as autoridades", sobretudo na questão dos royalties da mineração. Divergências entre Agnelli e o governo acerca dos dois temas alimentaram a pressão para a saída do executivo da Vale.

- É importante salientar que a Vale é uma mineradora. No entanto, todas essas demandas em relação a você ter uma participação (na mineração e na siderurgia) é um fenômeno mundial, não ocorre só no Brasil. A gente precisa encontrar uma solução de consenso. Para nós, é extremamente importante ter um parque siderúrgico no Brasil. Enxergamos isso como um posicionamento que deve ser perseguido. Quando se instala uma nova siderúrgica no Brasil, passamos a ter um mercado interno consumidor de minério da Vale e esse mercado interno tem grande valor para nós e para toda a comunidade - disse Ferreira.

Entusiasmo com projeto no Pará

Ele não falou em novos projetos no setor, mas garantiu que os previstos no plano estratégico serão mantidos e que, com o tempo, investidores se associarão à empresa na empreitada:

- Em determinadas ocasiões você começa numa posição majoritária e depois vai para uma minoritária. Esse passo já está ocorrendo com a chegada da Posco (sul-coreana que se associou à Vale è a também sul-coreana Dongkuk na Companhia Siderúrgica de Pecém, no Ceará). Em relação a Alpa (no Pará, onde a Vale detém 100%), achamos que deve ter uma siderúrgica voltada para aquela parte importante do Brasil, que tem tido um crescimento impressionante. Estamos entusiasmados com esse projeto, queremos que ele vá à frente e temos certeza que quando os investidores enxergarem as oportunidade lá muitos vão participar.

Fica em Carajás, no Pará, a maior reserva de minério de ferro da Vale. Mas o produto é exportado e beneficiado no exterior, o que levou o ex-presidente Lula a cobrar investimentos em siderurgia no estado, de modo a reter parte da riqueza. A Vale também banca sozinha a Companhia Siderúrgica de Ubu (ES). Na ThyssenKrupp CSA (RJ), em operação, tem quase 30% e sua parceira alemã detém o restante. Os quatro projetos somam US$21 bilhões em investimentos.

Plano estratégico e orçamento mantidos

De fala mansa e poucas palavras, Ferreira tem estilo diferente de Agnelli, vaidoso e adepto de longas intervenções. Num discurso conciliador com os anseios do governo, ele disse que dar atenção ao desenvolvimento do país e aos acionistas não "são coisas incompatíveis" e frisou a importância do diálogo. Quanto à divergência sobre o cálculo dos royalties da mineração - o Departamento Nacional de Pesquisa Mineral cobra R$4 bilhões da Vale -, Ferreira disse que buscará consenso.

- Temos que ter um diálogo franco e aberto com as autoridades. Queremos encontrar uma interpretação comum dos documento legais. Existe o fórum adequado para encontrar soluções quando não são possíveis obtê-las numa mesa de conciliação.

O presidente do Conselho de Administração da Vale e presidente da Previ (fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil), Ricardo Flores, enfatizou a necessidade de boa relação com a imprensa - Agnelli costumava mandar recados pela mídia, o que desagradava a Lula - e ressaltou a continuidade da gestão:

- Estamos reforçando que o planejamento estratégico da Vale e o orçamento de 2011 permanecem.

Com exceção de Carla Grasso, que comandava a diretoria-executiva de Recursos Humanos, os demais diretores ficam. Quem substituirá Carla, braço-direito de Agnelli, será Vânia Somavilla, que era diretora de Meio Ambiente e Sustentabilidade. O Conselho deverá aprovar seu nome no dia 26.