Título: FH defende em filme descriminalizar maconha
Autor: Amorim, Silvia
Fonte: O Globo, 31/05/2011, O País, p. 10

"Quebrando o tabu" mostra ações de países que veem tema como de saúde pública, não de polícia

SÃO PAULO. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso defendeu ontem que o país inicie um debate profundo sobre a descriminalização da maconha para enfrentar a guerra contra as drogas. O desafio foi proposto no pré-lançamento do documentário "Quebrando o tabu", em que FH é o protagonista. Uma cópia do filme, que chega aos cinemas na próxima sexta-feira, foi enviada, a pedido de FH, à presidente Dilma Rousseff.

- Não estamos falando de um criminoso, mas de muitos próximos de nós. A gente finge que não é. É comodismo. A gente tem de sacudir a sociedade - disse FH após exibição do documentário, à noite, em São Paulo.

O tucano destacou que não se trata de defender a legalização das drogas, e esclareceu que o documentário não traz uma receita para o problema.

- O filme não é de tese, é de abrir um debate. Não estamos pregando receitas - explicou.

Na tela, o ex-presidente assume a liderança de um debate sobre a descriminalização da maconha no Brasil. Dirigido pelo jovem Fernando Grostein Andrade, FH vai a países como Portugal, Holanda e EUA, para mostrar experiências de políticas antidrogas. No final, diz-se convencido de que o caminho está em tratar a questão como de saúde pública, não como de polícia.

- Só quem é burro não muda de opinião diante de fatos novos. Eu não tinha consciência da gravidade e do que significava essa questão, naquela época, como tenho hoje - diz FH em sua primeira aparição na tela.

FH defende a descriminalização da maconha alegando que o dependente tem de ser visto como doente e não criminoso, que precisa de tratamento e não prisão. Seguem a visão do brasileiro ex-chefes de Estado como Bill Clinton e Jimmy Carter, e ex-presidentes de Colômbia, México e Suíça, com depoimentos explicando por que mudaram de opinião após saírem dos governos.

- Os presidentes têm limitações. Se a sociedade não se convencer, é difícil que o governo avance nessas matérias. A luta tem de ser dada na sociedade civil. Não acho que seja tema para agora estar sendo discutido no Congresso. Não tem preparação para isso ainda - resume FH.

O filme retrata o fracasso da política de combate às drogas aos mostrar que há 40 anos os Estados Unidos levaram o mundo a declarar guerra às drogas, mas os danos à sociedade só cresceram no período. O filme foi gravado em oito países - Brasil, Portugal, Holanda, Colômbia, Suíça, França, Argentina e EUA - e levou dois anos.

Para defender a descriminalização da maconha, outro argumento usado é o de que a criminalização ajuda a fortalecer o crime organizado. Na Holanda, FH visita os tradicionais cafés onde são permitidos a venda e o consumo de maconha. Também foi a Portugal conhecer os resultados da política de descriminalização. No Brasil, visitou favelas do Rio para colher depoimentos de ex-traficantes, usuários e famílias vítimas da violência causada pelo tráfico de drogas. À noite, houve uma exibição do filme para convidados.