Título: Procurador espera mais informações de Palocci
Autor: Maltchik, Roberto
Fonte: O Globo, 31/05/2011, O País, p. 9

CRISE NO GOVERNO

Gurgel aguarda resposta de 2º requerimento para saber se abre investigação. Presidente da OAB defende saída de ministro

BRASÍLIA. O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, aguarda um segundo pacote de informações sobre o funcionamento da empresa de consultoria do ministro Antonio Palocci para decidir se abre ou não investigação criminal contra o chefe da Casa Civil. Palocci tem 15 dias - a partir da última quinta-feira - para esclarecer os motivos pelos quais uma operação da empresa Projeto foi considerada atípica pelo Ministério da Fazenda e apresentar detalhes sobre o preço e a natureza dos serviços de consultoria que prestou enquanto era deputado federal. Ontem, o presidente da OAB, Ophir Cavalcanti, defendeu que Palocci se afaste do cargo.

O segundo requerimento de informações chegou à Casa Civil em 26 de maio, tendo sido expedido pela Procuradoria Geral da República no dia anterior. No documento, Gurgel provoca o ministro a responder suspeitas levantadas em duas representações de autoria de DEM, PSDB e PSOL, subscritas também pelo senador Jarbas Vasconcellos (PMDB-PE).

Gurgel cobra mais detalhes sobre o relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), órgão subordinado ao Ministério da Fazenda que apontou a Projeto como uma das empresas que mantiveram transações financeiras com uma incorporadora investigada pela Polícia Federal em São Paulo.

O procurador-geral quer saber por que os clientes de Palocci escolheram o fim de 2010, após a vitória de Dilma nas eleições, para efetuar vultosos pagamentos à consultoria. A defesa de Palocci alega que esses pagamentos foram motivados pelo encerramento das atividades da consultoria e serviram para quitar serviços prestados de forma continuada antes das eleições.

Palocci terá que esclarecer os preços que cobrava pelos serviços de consultoria, pois a oposição acusa o ministro de apresentar faturamento fora do padrão das empresas do ramo. Gurgel está analisando os esclarecimentos de Palocci sobre a compra, pelo ministro, de um apartamento de R$6,6 milhões, em área nobre da capital paulista, enquanto era deputado.

Ontem, o presidente da OAB, Ophir Cavalcanti, defendeu que Palocci seja afastado imediatamente da Casa Civil, apesar de o Planalto não oferecer sinais de que esteja disposto a isso. Na avaliação de Ophir, a blindagem governista sugere que existe alguma "coisa de podre nisso".

- Do ponto de vista ético-moral, seria recomendável, sim, que ele se afastasse. Deixaria o governo Dilma mais tranquilo. Quando o governo blinda o ministro e diz que não vai investigar, obviamente, que todos nós brasileiros passamos a pensar que tem alguma coisa de podre em tudo isso - disse Ophir.

Por meio da assessoria, Palocci informou que prestará os esclarecimentos no prazo estipulado pela PGR. Já o advogado de Palocci, José Roberto Batochio, informou que vai questionar a legitimidade do Ministério Público Federal do Distrito Federal, que abriu investigação prévia para apurar indícios de improbidade administrativa.

- A Lei Orgânica do Ministério Público é clara ao afirmar que ministros de Estado devem ser investigados pelo procurador-geral da República.