Título: Agricultor executado em RO denunciou ameaças
Autor: Éboli, Evandro; Hofmeister, Naira
Fonte: O Globo, 31/05/2011, O País, p. 5

IMPASSE NO CAMPO

Ouvidor agrário confirma que pedido de proteção para Adelino Ramos foi feito à Secretaria de Segurança do AM

BRASÍLIA e PORTO ALEGRE. Autoridades do Amazonas foram alertadas pela Ouvidoria Agrária Nacional das ameaças de morte contra Adelino Ramos, assassinado na última sexta-feira em Vista Alegre do Abunã, na divisa entre Rondônia, Acre e o Amazonas. O ouvidor agrário, Gercino José da Silva, afirmou ontem ao GLOBO que pediu várias vezes providências e proteção à vida de Adelino, conhecido como Dinho e que presidiu o Movimento Camponeses Corumbiara e a Associação dos Camponeses do Amazonas.

- O Adelino trouxe a questão de ameaça a ele e aos trabalhadores. Várias vezes pedimos providência à Secretaria de Segurança Pública do Amazonas, ao Comando Geral da Polícia Militar do estado, junto ao delegado de Lábrea (AM) e também ao Ministério Público - afirmou.

O ouvidor disse ainda que, provocada pelas denúncias, uma juíza de Lábrea, onde Adelino vivia, chegou a expedir vários mandados de prisão, mas que foram revogados antes de serem cumpridos. A Ouvidoria Agrária é vinculada ao Ministério do Desenvolvimento Agrário.

Ontem, em Porto Alegre, a ministra de Direitos Humanos, Maria do Rosário, cobrou agilidade do MP e da Justiça que, na sua opinião, foram negligentes no caso de Adelino Ramos.

- Já havia por parte da Polícia Federal um inquérito e (pedidos de) buscas, mas que acabaram não tendo desdobramentos no âmbito do MP e do Judiciário de Rondônia. Isso atrasou as ações contra esse grupo de extermínio que acabou por matar o Dinho e está operando na região - lamentou a ministra, que não participou, em Brasília, da reunião interministerial para definir medidas contra as mortes no campo. Ela esteve na capital gaúcha e participou de um seminário sobre abordagem policial.

Vítima denunciou de onde partiriam as ameaças

Em nota, a Comissão Pastoral da Terra (CPT) informou que Adelino participou de uma audiência em 22 de julho de 2010, em Manaus, com a presença de Gercino, e denunciou as ameaças que vinha sofrendo constantemente. Segundo a CPT, ele citou nomes dos responsáveis pelas ameaças. Integrantes da Comissão de Combate à Violência e Conflitos no Campo também participaram da reunião.

Gercino falou sobre a violência no Pará, palco de três das quatro mortes de agricultores na semana passada.

- O Pará é uma área que tem bastante conflitos agrários. Principalmente nas regiões Sul e Sudeste do estado. De acordo com dados da Ouvidoria Agrária é uma região de muita violência no campo - disse Gercino.

A CPT criticou, na nota de ontem, a Secretaria de Segurança Pública do Pará, o Incra e o Ibama, que, semana passada, teriam informado que desconheciam as ameaças contra José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo, mortos no último dia 24, em Nova Ipixuna.

"As mortes no campo podem se intitular de crônicas de mortes anunciadas", apontou um dos trechos da nota, assinada pela coordenação nacional da CPT.

* Especial para O Globo