Título: Lula surfa nas ondas da crise
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 09/08/2009, Política, p. 3

Palacianos acreditam que governo não será abalado pela tempestade do Senado, mesmo que a Casa emperre votações

Enquanto a oposição luta para derrubar José Sarney da presidência do Senado, o governo vai lapidando a candidatura de Dilma Rousseff ao Planalto

O governo trabalha com o cenário de que a crise política, onde o embate do Senado é apenas parte de um contexto maior, só vai terminar quando o país escolher o futuro presidente da República. Por isso, seus especialistas fizeram as contas e descobriram que, mesmo com a Casa paralisada, o prejuízo para a administração pública não será dos maiores. Até porque, a própria regulamentação da exploração do pré-sal, projeto que chegará este mês ao Congresso, dificilmente estará pronta para análise do Senado este ano.

Quanto aos temas em pauta ¿ reforma tributária, reforma política e as incômodas propostas que pretendem ampliar os gastos previdenciários ¿, o governo prefere deixar mesmo na gaveta. E, de mais a mais, dizem os palacianos, se houver algum problema urgente, que precise da apreciação de uma nova lei, a culpa será dos senadores, incapazes de chegar a um acordo ou encontrar um clima que favoreça a aprovação de medidas ¿ dirá o governo ¿ essenciais para o país. Em suma, nada nessa crise afeta hoje o presidente Lula e sua candidata, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff.

A avaliação do Planalto é de que, enquanto a oposição consome suas energias tentando afastar do cargo o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), o governo vai tocando as obras, lançando novos projetos e incensando a candidatura de Dilma à Presidência da República. Tanto é que, nos últimos dias, embora o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenha mantido o apoio incondicional a Sarney, a turma palaciana não jogou todo o seu potencial para tentar debelar os conflitos. E do outro lado, o PSDB terminou cancelando a sua reunião que trataria de questões relativas a 2010 para dedicar mais tempo ao embate no Senado.

Na última semana, Lula tratou do tema com o presidente do PT, Ricardo Berzoini. Juntos, concluíram que a melhor forma de preservar o PT e não provocar a ira do PMDB, o maior aliado do governo no Senado e na Câmara, é adotar um discurso voltado às reformas da Casa Alta e tentar levar toda a bancada para a linha de que Sarney está fazendo essas reformulações, deixando para a oposição a pecha de ¿politiqueira¿ que deseja tirar o cacique maranhense do comando para colocar o vice, Marconi Perillo (PSDB-GO).

Passada a briga entre os senadores Tasso Jereissati (PSDB-CE) e Renan Calheiros (AL), líder do PMDB, e aquela entre Fernando Collor (PTB-AL) e Pedro Simon (PMDB-RS), os oposicionistas perceberam que, enquanto todos no Senado se afundam, Lula surfa. ¿Ele faz cara de paisagem, segura Sarney, propaga a crise e, amanhã ou depois, vai dizer que a crise é do Congresso e que ele não tem nada a ver com isso¿, diz o presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE). ¿É bom que se diga que quem foi à casa do presidente do Senado pedir para que ele não deixasse o cargo foi a Dilma¿, diz o tucano, colocando a ministra-chefe da Casa Civil na roda do Senado.

Campanha Uma das alternativas dos tucanos é começar a mobilizar a sociedade civil em torno de uma campanha pela ética no Senado e, assim, tentar forçar o PT a rever sua posição de apoio a Sarney. E eles têm como trunfo para esse discurso o fato de que o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) disse que errou ao pagar salário a um funcionário que morava no exterior e tenta consertar o equívoco devolvendo o dinheiro, ainda que em parcelas.

A ideia, agora, é comparar o gesto do líder tucano ao dos peemedebistas em geral, que dizem nunca ter cometido qualquer ato irregular na Casa. E é nesse sentido que vão trabalhar nesta semana de forma a separar a bancada tucana do PMDB. ¿Esse grupo está totalmente atrapalhado na opinião pública. Se esforçam para dizer que todos são iguais. Não vamos permitir que isso aconteça, porque não somos iguais a eles¿, garante Sérgio Guerra. E se os apelos dos tucanos tiverem apoio na voz rouca das ruas, a aposta do PSDB é que Lula não poderá ficar mais tão calmo como está em relação à crise no Senado. Pelo menos, é por aí que tucanos e democratas estão pondo suas fichas.