Título: O lado B do gladiador
Autor: Jefferson, Roberto; Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 09/08/2009, Política, p. 4

DENISE ROTHENBURG

Cadu Gomes/CB/D.A Press

Penso que a Dilma é muito dura. Inteligentíssima, mas autoritária. Eu a vejo como o Ciro Gomes de saias

Há quase quatro anos afastado do Parlamento, o presidente do PTB, Roberto Jefferson, não perdeu o gosto pela política e trabalha em duas frentes: uma, tentar, no Supremo Tribunal Federal, reduzir o período em que terá que ficar afastado dos palanques como candidato a mandato eletivo. A outra, fortalecer a legenda que comanda. Seu sonho para 2010 seria fazer de Fernando Collor candidato à sucessão presidencial. Mas, ciente de que Collor está mais voltado para o governo de Alagoas, Jefferson mostra-se disposto a jogar suas fichas em Aécio Neves. ¿Ele junta todo mundo. Serra e Dilma são nomes muito duros. O Brasil precisa de conciliadores e não de uma campanha acirrada de ódios¿, diz, citando Aécio como o nome da conciliação.

Famoso pelo estilo truculento nos duelos políticos, presidente nacional do PTB diz que está velho demais para inimizades, aposta na permanência de Sarney e torce por Aécio em 2010

O PTB já decidiu se apoia o PSDB ¿ Aécio Neves ou José Serra ¿ ou Dilma Rousseff, do PT? Nosso sonho era lançarmos o presidente Collor candidato próprio pelo PTB. Mas ele lidera as pesquisas com larga vantagem em Alagoas para o governo do estado. O nosso segundo caminho seria com Aécio. Ele agrega o Brasil, junta todo mundo.

O PSDB de São Paulo se movimenta por José Serra. Não posso entrar nessa luta interna deles. O Serra é um grande nome. Um senhor governador. Mas o Brasil precisa de conciliadores e não de uma campanha acirrada de ódios. A própria Dilma é um grande nome, mas o Serra e a Dilma são muito duros.

Como anda a sua relação com o presidente Lula? Tenho apreço, respeito e consideração. Mas desde o episódio que nos separou, da luta política do mensalão, nunca mais conversei com ele.

E a ministra Dilma? Eu gosto dela. Ela tem uma coisa em comum comigo: gosta de música clássica, lírica. Mas penso que a Dilma é muito dura. Inteligentíssima, mas autoritária. Eu a vejo como o Ciro Gomes de saias.

Como o senhor vê essa crise no Senado? O presidente Sarney ficou entre a luta do PT e do PSDB. Ficou como um marisco na briga do mar e do rochedo. Apanhando de todo lado.

O senhor vê Sarney fora da Presidência do Senado? Não. Ele não vai sair. O discurso agora baixou muito o tom.

O senhor planeja voltar ao Congresso? Quero é construir um grande partido. E isso restou para mim. Estou construindo um grande PTB. Nas eleições municipais, crescemos 40%.

O que o senhor achou do comportamento do Collor no Senado essa semana? Aquilo ali deve ter marca do passado. Quem bate esquece. Quem apanha registra. O senador Pedro Simon virou um estilingue há muitos anos. Ele bate em todo mundo. Bate, bate, bate e bate. O Collor, acho que cansou de apanhar. A reação foi um pouco forte, extremada, mas eu, que sou amigo dele há muitos anos, até pela respiração dele, emocionada, percebi que estava prenhe de indignação. Estava com um machucado antigo que colocou para fora.

O senhor acha que ele poderia voltar a concorrer à Presidência? Não seria uma aventura? Eu tenho pesquisas que dão ele com 10%. Você vai dizer: ¿Ah, mas ele tem uma grande rejeição¿. Mas se ele quiser abreviar esse reencontro com a opinião pública nacional, ele precisa passar pela eleição presidencial. Vai apanhar? Muito. Mas vai explicar muita coisa e vai crescer outra vez.

O senhor continua cantando? Muito. Vou gravar um CD. Creio que terei pronto em novembro. É mais para os amigos, não é para comercializar. O povo conhece muito o lado do Roberto Jefferson guerreiro. Tem um lado sensível que eu quero mostrar, como eu vejo, como eu vivo. É o outro lado do Roberto Jefferson. E eu quero colocar a coisa mais pelo lado da sensibilidade. Eu estou velho para criar inimigos.