Título: Previsão para PIB este ano já está abaixo de 4%
Autor: Almeida, Cássia
Fonte: O Globo, 03/06/2011, Economia, p. 35

Analistas esperam crescimento de 1% a 1,5% de janeiro a março e ritmo menor a partir do segundo trimestre

O primeiro trimestre do ano ainda foi de economia muito aquecida, de acordo com as previsões de analistas para o o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país), que será divulgado hoje pelo IBGE. A taxa esperada está entre 1% e 1,5% frente aos últimos três meses de 2010, num ritmo mais forte do que vinha sendo observado. No último trimestre do ano passado, a expansão se limitara a 0,7%. Na comparação entre o primeiro trimestre de 2010 e o de 2011, espera-se alta em torno de 4%. Nas previsões para o fechamento do ano, porém, a aposta na desaceleração fica bem clara, com os analistas prevendo, em alguns casos, taxas abaixo de 4%. A LCA Consultores aposta em 3,4% de crescimento para 2011, menos da metade dos 7,5% de 2010, a maior expansão desde 1986, auge do Plano Cruzado. O anúncio da produção industrial de abril, este semana, contribuiu para a revisão das expectativas.

A alta de juros, as medidas para conter o crédito que ainda estão em curso, como o aumento do pagamento mínimo do cartão de crédito de 10% para 15%, são as explicações dos analistas para prever avanço menor este ano:

- O custo do crédito está subindo, o governo está fazendo cortes, a renda vem sendo corroída pela inflação, a confiança do consumidor e do empresário já está caindo, a geração de emprego está perdendo força. De onde virá mais crescimento com esse cenário? - pergunta-se Francisco Pessoa Faria, economista da LCA Consultores.

A consultoria projetara 4% de expansão no início do ano, depois baixou para 3,6% e, há dois meses, refez as contas e reduziu o número para 3,4%.

Na opinião de Álvaro Bandeira, sócio diretor da Ativa Corretora, a desaceleração somente deve aparecer nos números do segundo semestre. Pelas previsões da corretora, o segundo trimestre ainda vem forte, com alta de 1,3% frente ao início do ano, mas cai para 0,6% no período de julho a setembro. O resultado da produção industrial de abril, com queda de 2%, ajudou a reduzir as expectativas:

- Alta de juros e contenção de gastos do governo aparecerão com mais força. Vamos rever nosso número do ano de 4,2% para algo entre 3,8% e 4%.

Investimento e consumo lideram crescimento

O perfil da expansão da economia permanecerá o mesmo dos últimos trimestres. Investimento e consumo das famílias crescendo mais. Para a formação bruta de capital fixo (denominação dada nas contas nacionais ao investimento), espera-se alta superior a 10% frente ao primeiro trimestre de 2010. O HSBC, por exemplo, projeta alta de 15%:

- A demanda está forte, o que se reflete no investimento e consumo das famílias, que deve crescer 6% frente ao primeiro trimestre de 2010 - afirmou Constantin Jancsó, economista-sênior do HSBC Bank Brasil.

Francisco Faria, da consultoria LCA, lembra que os juros da linha de crédito do Programa de Sustentação do Investimento do BNDES aumentaram em abril:

- Pode ter havido uma antecipação de compra de máquinas.

Sergio Vale, da MB Associados, calcula expansão de 4,5% este ano:

- Apesar de a indústria estar mal, o que não é de hoje, o mesmo não pode ser dito dos serviços, consumo e investimento, que continuam em ritmo razoável de expansão.