Título: Para aliados, Palocci merece voto de confiança; oposição cobra demissão
Autor: Braga, Isabel ; Lima, Maria
Fonte: O Globo, 04/06/2011, O País, p. 4

Adversários vão insistir para que ministro vá ao Congresso se explicar

BRASÍLIA. Os líderes aliados no Congresso consideraram importante o ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, ter assumido a responsabilidade pela turbulência política provocada pela sua evolução patrimonial, taxando-a de crise pessoal e não de governo. Enquanto a base destacou a segurança e a tranquilidade de Palocci na entrevista à TV Globo, a oposição não aprovou as explicações do ministro, dizendo que ele não tem mais condições de continuar à frente da Casa Civil e que a fragilidade dos argumentos vai levar os próprios governistas a aprovarem sua convocação para se explicar no Congresso.

Para os aliados, Palocci cumpriu a expectativa dos que cobravam dele uma explicação pública, e que agora é preciso lhe dar um crédito de confiança. Os lideres ouvidos avaliam que sua situação política melhora.

- O ministro Palocci deixou claro que, se tem que dar explicações, é dele como pessoa física, não como governo. Deixou claro que não tem crise no governo, mas uma situação pessoal provocada por sua atuação empresarial quando nem era do governo. Ele garantiu que não fez tráfico de influência nem usou informações privilegiadas de órgãos de controle em suas consultorias. Agora temos que centrar toda a atenção na implantação do plano Brasil sem Miséria - disse o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP).

Outro aliado do governo, o deputado Henrique Eduardo Alves (RN), líder do PMDB, disse que se Palocci contou que já estão no Ministério Público informações sobre nomes de empresas, contratos e faturamento é porque ele tem como provar.

- A oposição tenta envolver o governo num episódio que ele deixou claro que só diz respeito a ele. Tudo que saiu até agora diz respeito ao ministro Palocci como consultor e nada tem a ver com o governo. Agora, se as pessoas acreditam ou não, vão ter que esperar a manifestação do Ministério Público. Ele não afirmaria tudo isso se não tivesse entregue a documentação na PGR. Eu lhe daria esse crédito de confiança. A questão é se acreditam ou não no que ele disse. Eu acredito - disse Henrique Eduardo Alves.

Já os líderes da oposição consideraram que Palocci se complicou ainda mais. O líder do PSDB na Câmara, Duarte Nogueira (SP), disse que, se Palocci não pedir demissão, ou se não apresentar novos dados concretos, a própria base aliada aprovará sua convocação.

- Foi estarrecedor. Só fez agravar a suspeição. É óbvio que ele atuou com empresas privadas que tinham interesse no governo. Se há alguma explicação, o ministro não quis ou não pode dar. Isso só reforça a suspeita de que cometeu tráfico de influência. O melhor para o país é o seu afastamento - afirmou Duarte Nogueira.

O líder do DEM, ACM Neto (BA), também afirmou que ele não tem mais condições de se manter no governo e acrescentou:

- Ele só fez se complicar, foi um tiro no pé. Foi apertado e fugiu. Cometeu dois erros graves na entrevista. Primeiro, disse que a empresa dele não negociava com empresas que tinham interesses com o governo, quando a WTorre tem. Segundo, falou que atuou de dois a cinco anos em algumas consultorias. Foi antes de fundar a empresa ou depois de virar ministro?

Para Duarte Nogueira, ainda ficou outra dúvida sobre a WTorre:

- A empresa tinha acionado a Receita Federal em 2009. A Receita, em 44 dias, paga, sem recorrer. Já viu a Receita não recorrer até o final? São dúvidas que ele não esclareceu.