Título: Desafios técnicos e comerciais podem encarecer e atrasar empreendimento
Autor: Alencastro, Catarina
Fonte: O Globo, 03/06/2011, Economia, p. 29
Custo total da obra ainda é considerado uma incógnita por engenheiros
BRASÍLIA. A autorização para o início das obras levanta apenas um dos vários entraves técnicos e comerciais à construção da Usina de Belo Monte. Devido à complexidade dos trabalhos, há risco de operários encontrarem dificuldades nas escavações, que deverão remover 200,1 milhões de metros cúbicos de terra, e problemas de logística. Existem ainda chances de atrasos no início do funcionamento das linhas de transmissão e de encarecimento do projeto.
Belo Monte precisará de uma logística de grande porte, que exigirá muitos caminhões para levar ferro, aço e cimento aos canteiros da obra. Um engenheiro familiarizado com o projeto disse ao GLOBO que um questão importante é a geológica, e que, apesar de se tratar do segundo empreendimento hidrelétrico mais estudado no país (o primeiro foi Garabi, no Rio Grande do Sul), a área que irá abrigá-lo continua pouco conhecida.
Uma das incógnitas é o desvio da Volta Grande do Xingu, que o engenheiro classificou como "complicada". Desafios na área de geologia podem aumentar o orçamento da obra em 20% e atrasar o cronograma.
A possibilidade de aumento dos custos de Belo Monte já cria dificuldades para que o governo e o consórcio Norte Energia S.A. encontrem investidores para substituir seis construtoras: Serveng (1,25%), Cetenco (1,25%), Mendes Júnior (1,25%), J.Malucelli Construtora (1%), Galvão (1,25%) e Contern (1,25%).
Investimentos podem ultrapassar US$35 bilhões
O problema, segundo uma fonte, começou porque há incerteza em relação ao custo do empreendimento. O projeto estava inicialmente orçado em R$16 bilhões, depois, com as exigências socioambientais, o valor subiu para R$19 bilhões. A Odebrecht e a Camargo Corrêa, disse a fonte, não quiseram disputar o leilão de Belo Monte porque os investimentos necessários subiram para R$33 bilhões e podem ultrapassar os R$35 bilhões, apesar de cálculos oficiais não passarem de R$26 bilhões.
- Qualquer mudança e atraso no cronograma da obra terá impacto no custo - afirmou.
Circulam no mercado rumores que a Vale poderá assumir a parcela dos sócios que estão deixando a Norte Energia, aumentando sua participação no projeto. No fim de abril, a empresa comprou os 9% da Gaia, do grupo Bertin. Porém, para uma fonte, a entrada da Vale no grupo não tem lógica, porque ela poderia conseguir melhores perspectivas de lucro em qualquer outro investimento no setor, até em energia eólica, uma vez que a taxa de retorno de Belo Monte é considerada muito baixa.
A previsão da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) é que o leilão das linhas de transmissão que levarão a energia de Belo Monte para o resto do país será realizado apenas no primeiro semestre de 2012. A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) ainda não definiu seus traçados.