Título: Mortes no campo: grupos cobram ação enérgica
Autor: Alencastro, Catarina
Fonte: O Globo, 04/06/2011, O País, p. 14

Entidades se reúnem com Gilberto Carvalho, apresentam mapa da grilagem e pedem que reforma agrária seja feita

BRASÍLIA. A violência no campo na região amazônica foi tema de mais uma reunião no Palácio do Planalto, ontem. O ministro da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, recebeu representantes da CUT, da Contag, da Fetraf e do MST, além de lideranças rurais do Pará, do Amazonas, do Amapá e de Tocantins, que levaram novas denúncias e cobranças ao governo. Eles apresentaram um mapa da grilagem na Amazônia e reivindicaram ações para combater a impunidade.

Segundo as entidades, novas ameaças foram feitas a trabalhadores rurais nos últimos dias. No Ceará, um assentado que denunciou crimes ambientais foi ameaçado de morte. Em Mato Grosso, dois agentes da Pastoral da Terra correm risco de vida. Além disso, três lideranças estão desaparecidas desde o ano passado em Tocantins.

O grupo reconheceu as providências que o governo anunciou para estancar a onda de assassinatos no Norte, mas quer mais. Os trabalhadores rurais exigiram que o governo se dedique a fazer a reforma agrária no país. Eles reclamaram que o governo só começa a agir em resposta a levantes de violência e que ações urgentes têm que ser tomadas para acabar com a impunidade dos criminosos.

- O governo infelizmente toma as medidas a partir desses fatos que aconteceram. É preciso uma ação mais forte do Estado. O mapa da grilagem que apresentamos é uma demonstração de que o Estado precisa tomar medidas enérgicas para combater a impunidade no campo. Precisa investigar, caçar os matadores. Esse estado de impunidade motiva ainda mais a impunidade - alertou Carlos Augusto Santos Silva, presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetagri) do estado do Pará.

Ele também cobrou a proteção dos que estão ameaçados e das demais lideranças contra o que chamou de "defensores do latifúndio":

- Além de defender os marcados para morrer, o Estado tem a obrigação de dar proteção a esses brasileiros da Amazônia e a esses lutadores do Brasil.

Entre os trabalhadores rurais recebidos no Planalto estava Maria Joel da Costa, líder sindical em Rondon (PA). Ela teve seu marido, Dezinho, assassinado no ano 2000 e, tanto os assassinos, quanto o mandante do crime estão soltos. Joelma, como é conhecida, permanece sob proteção policial desde então.

- Não tem como não ter medo. Já teve caso de gente que estava sob proteção e nem por isso os criminosos deixaram de matar. Não tem condição de homens e mulheres serem assassinados e ficar por isso mesmo. O caso do Dezinho continua impune. O matador dele foi julgado, condenado, mas está foragido. O mandante todo mundo sabem quem é, é um grande fazendeiro do Pará. Continua na impunidade, enriquecendo - disse Maria.

Ministro da Justiça irá até a região do conflito

Segundo o presidente da Contag, Alberto Broch, o ministro Gilberto Carvalho ouviu atentamente os relatos dos trabalhadores e prometeu levar tudo à presidente Dilma Rousseff. Ele confirmou que na próxima semana uma comitiva do governo liderada pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, irá à região do conflito.